Do listão ao site: mudou a divulgação, mas ansiedade pela nota do vestibular é a mesma
Os participantes do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2017 já estão na contagem regressiva para saber as notas que conseguiram alcançar nas provas realizadas em novembro do ano passado. O resultado do maior “vestibular” do Brasil vai ser divulgado na quinta-feira (18), um dia antes do que tinha sido anunciado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pela realização do exame.
“Essa expectativa sobre a nota do Enem é angustiante. A gente faz a prova, faz correções depois, mas nunca tem certeza se foi bem, principalmente no Enem, com a TRI [Teoria de Resposta do Item]”, desabafa a estudante Maria Victoria Figueiredo Rebolho, 20, que tenta uma boa colocação para conseguir entrar em Medicina.
Basta uma rápida busca no Twitter com as palavras-chave “Enem” e “resultado” para ver a pilha de nervos que a espera tem causado nos candidatos.
No dia da divulgação, bastarão alguns cliques na “Página do Participante” para conhecer a nota. Dias depois, em 29 de janeiro, com a nota do Enem em mãos, os candidatos gastarão outros poucos cliques na página do Sisu (Sistema de Seleção Simplificada), sistema onde ficam disponíveis as vagas das instituições públicas de ensino superior de todo o Brasil que integram o sistema.
É uma dinâmica bem diferente da geração anterior, quando nem existia Enem. Para saber se o sonho de entrar na universidade ia finalmente se realizar, os então candidatos, que hoje são pais e mãe dos atuais vestibulandos, tinham que enfrentar uma multidão para ver se nome constava no famoso “listão” do vestibular. No outro dia, uma lista enorme com os nomes dos aprovados era publicada nos principais jornais do Estado e, não raro, virava uma espécie de troféu para pais - hoje avós - orgulhosos.
Tumulto na Paulista e busca por orelhão
O pai de Victoria, Mario Henrique Rebolho, 60, ginecologista, lembra com emoção o dia em que soube que havia sido aprovado para o curso de Medicina na USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, no interior do Estado.
Estava tão nervoso quanto a filha está hoje. Era 1977 e ele sabia que a Fuvest ia fixar o “listão” das três estaduais (USP, Unicamp e Unesp) no prédio da Gazeta, que fica na avenida Paulista, região central de São Paulo. Havia um problema: ele morava em Colina, a 405 quilômetros de São Paulo. A ansiedade foi tanta que não deu para esperar até o dia seguinte.
“A Folha [de S. Paulo] chegava de manhã lá em casa e o Estadão [O Estado de São Paulo], à tarde. Eu sabia que fixavam o listão na Gazeta e combinei com um amigo de irmos juntos para São Paulo. Cheguei umas 17h e fui direto para a Paulista. Um tumulto danado. Mas valeu a pena, meu nome estava lá”, contou ao UOL.
Para avisar à família, Mario procurou o telefone público mais próximo. “Meu pai estava numa expectativa grande. Fui num orelhão e liguei a cobrar. Avisei que tinha entrado e voltei para casa no mesmo dia, mas eles só foram ver meu nome no dia seguinte no jornal. Foi bem diferente de como é hoje, que dá para ver até pelo celular, avisar aos parentes e amigos pelo WhatsApp”, contou o ginecologista.
Mario diz entender a “pilha de nervos” da filha e que hoje sente o que o pai dele deve ter sentido quando esperava o resultado do filho. “A gente acompanha a luta dela, ela estudou muito”, conta.
Se conseguir uma boa nota, Victoria planeja tentar entrar na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) ou na UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro), por ser mais perto da cidade em que mora, São Carlos, interior de São Paulo. Mas ela diz que o seu sonho é estudar onde o pai estudou: na USP de Ribeirão Preto.
“Eu passei nas [universidades] particulares, mas tenho preferência pelo curso de Medicina da USP Ribeirão, estou ansiosa pelo Enem, mas mais ansiosa ainda para saber o meu resultado na Fuvest”, contou a estudante do Anglo.
Nervosismo agora é na frente do computador
A expectativa pela nota continua a mesma, mas a divulgação do resultado agora é bem diferente. Quando prestou pela segunda vez o Enem, a estudante Júlia Marçal Silva, 18, soube a nota que tinha tirado em frente ao computador, sozinha em casa, enquanto conversava com um amigo pelo WhatsApp.
“O site estava travando muito e eu estava sozinha em casa, estava falando com meu amigo pelo WhatsApp para saber se ele estava conseguindo acessar a nota dele. Não consegui atingir a nota necessária [para entrar em Direito]”, conta a estudante do Etapa.
A mãe, a analista de recursos humanos Silvana Marçal, 45, tenta dar à filha o incentivo que diz não ter recebido dos pais, quando prestou vestibular em 1996 para o curso de Administração de Empresas na FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas). “Meus pais não falavam sobre curso superior, universidade pública, não havia muito acesso à informação como tem hoje. Fiz e passei em Administração de Empresas. Eu paguei todo o meu curso. Ela [Julia] tem um suporte que eu não tive”, conta.
Ela disse que acompanha o sofrimento da filha, que está bastante ansiosa pelo resultado sonhado no Enem e nos vestibulares que prestou. “É um sofrimento que mobiliza a família toda. Ela está tão nervosa que no dia que sair o resultado da Fuvest, que é o que ela mais quer, eu não vou trabalhar nesse dia, para acompanhá-la. Fico com receio da frustração, caso não seja positivo o resultado”, conta.
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