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Empregada doméstica presta Enem no Rio e sonha com graduação em psicologia

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

10/11/2019 12h46

Egressa da comunidade da Rocinha, na zona sul do Rio, a empregada doméstica Ivanilda Pires Pereira, 35, estava ansiosa pelo segundo dia de provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2019. Ela fará o exame na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), na Gávea, também na zona sul da capital fluminense.

Ao UOL, Ivanilda disse que seu sonho é cursar psicologia."É a terceira tentativa que eu faço, a primeira foi frustrada porque não consegui encaixar pontos no Sisu, não sabia que existia Sisu", disse.

"Na segunda [tentativa], cheguei no portão e meu coração disparou e desisti, achei que não ia conseguir. Essa é a terceira que estou encarando, mesmo com todas as dificuldades", completou.

Ela se preparou para a prova estudando em casa, lendo livros, pesquisando na internet, fazendo testes e vendo vídeos de professores confiáveis no YouTube.

"Meu estudo é autônomo. Não faço curso pré-vestibular. A internet tem facilitado muito, vou procurando professores renomados, que busco pelos nomes e que fazem orientação direcionada para os vestibulares. Estou conseguindo estudar", detalhou.

Ela contou que já passou na primeira fase do vestibular da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Agora, aguarda a aplicação das provas da segunda fase, que consiste nas disciplinas de Biologia, Língua Estrangeira e Redação. "Vai ser mais resumida agora", pontuou.

Ivanilda Pires Pereira, 35 - Marina Lang/UOL - Marina Lang/UOL
Ivanilda Pires Pereira, 35, empregada doméstica, prestar o Enem pela terceira vez e sonha em estudar psicologia
Imagem: Marina Lang/UOL

Mas ela quer prestar o Enem devido ao acesso a mais opções de universidades.

"A abrangência que o Enem tem é em relação a mais universidades, mais opções. Eu posso até tentar em outro estado, segundo me informei", declarou.

"O Enem é uma prova bem maçante, bem complexa, bem específica. Se a pessoa estiver bem preparada, ela se sai bem tranquilamente", avaliou. "Se tiver algumas dúvidas em relação ao seu potencial, como é o meu caso, acaba ficando insegura", emendou.

Seu desejo de ingressar na faculdade de Psicologia vem de um diagnóstico médico dado em 2013, quando ela descobriu que possui transtorno bipolar.

"Comecei meu tratamento no Caps [Centro de Atenção Psicossocial]. Na Rocinha há um Caps excelente, que dá assistência 24 horas. Depois desses tratamentos, eu venho melhorado bastante a minha qualidade de vida em relação à saúde", observou ela.

A partir daí, ela foi analisando como era feito o trabalho dos psicólogos.

"Fui me interessando pela doença. Comecei a ler sobre isso. E me apaixonei por psicologia. Por [Sigmund] Freud, por [Carl Gustav] Joung [ambos são autores fundamentais da psicanálise]. A cura através da fala é fascinante", finalizou.