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Lemann: "Investir em educação não é uma questão de esquerda ou direita"

06.jul.2019 - O investidor Jorge Paulo Lemann - Divulgação
06.jul.2019 - O investidor Jorge Paulo Lemann Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

16/12/2019 09h57

O empresário e homem mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann, falou sobre a educação no Brasil e culpou a "briga" política pelo baixo investimento na área. Segundo ele, o investimento em educação não é uma questão de espectros políticos.

Em entrevista ao jornal "O Globo", Lemann falou sobre o trabalho de sua fundação - que leva seu nome -, que tem por objetivo replicar a experiência acadêmica de Sobral, cidade do Ceará, que apresenta bons índices educacionais. De acordo com ele, a intenção da fundação não é entrar na política.

"Não entramos na política partidária. Investir em educação não é uma questão de esquerda ou de direita. Vamos resolver, como é que resolve? Vamos fazer o prático. Provavelmente, isso é mais ou menos pelo meio, nem de esquerda nem de direita. Então, não estamos na política para eleger ninguém, mas para ajudar com a nossa experiência a produzirmos políticas públicas mais eficientes", disse.

"O Brasil briga demais. Briga-se muito na política. Isso é ruim. Esse clima todo de divergência impede a produção de consensos. Todo mundo concorda que o Estado é ineficiente e perdulário, mas por que não é possível sentar e descobrir consensos básicos de como fazer o Estado entregar serviços públicos de maior qualidade? Todo mundo concorda que é preciso investir mais e melhor na educação, mas como fazer a decisão certa com tanta briga? O Brasil precisa brigar menos e investir mais em educação".

Questionado sobre a existência de uma "bancada Lemann" no Congresso, o investidor negou: "Isso não existe. Eu não influencio ninguém, não digo a ninguém como deve votar, não vou me meter em política partidária. Ajudamos os movimentos de renovação na política porque acreditamos que a política é importante. A minha intenção é ajudar em termos de consensos".

O empresário evitou falar de apoios políticos e disse enxergar a deputada Tábata Amaral - que foi uma bolsista da fundação - como à esquerda de seu espectro político. "São pessoas de todas os campos políticos, todas comprometidas com o bem público. Tem o Felipe Rigoni, a Tábata Amaral... Aliás, a Tábata está bem à minha esquerda no espectro político. Levei o Flávio Dino [governador do Maranhão, filiado ao PCdoB] para falar em Oxford, o Fernando Haddad [candidato presidencial do PT em 2018], o importante não é se o politico é de esquerda ou de direita, mas se ele dialoga".

Questionado sobre sua avaliação do governo Bolsonaro, ele evitou entrar em detalhes, mas elogiou o Ministro da Economia, Paulo Guedes. "O rumo do Paulo Guedes está correto. Poderia ter menos agito na parte política".

"Bons exemplos"

De acordo com Lemann, o investimento em educação é a única forma de garantir o crescimento do país. "Não tem atalho para o Brasil crescer no longo prazo fora de oferecer uma educação de qualidade para todas as crianças. País bom é onde as pessoas têm a mesma oportunidade. É a educação é que gera oportunidade. Nós temos que educar melhor todas as nossas crianças brasileiras. A possibilidade de um país competir em um mundo moderno depende da educação que dá para suas crianças. Um país que educa bem vai progredir", disse. "É possível que o Brasil nunca vire uma Singapura, mas já seria ótimo virar uma grande Sobral (cidade cearense com bons índices de educação)".

O investidor deu três exemplos de "coisas que funcionam bem no Brasil'. "A educação em Sobral, o vôlei do Bernardinho e Zé Roberto e a Ambev. São três exemplos brasileiríssimos de metas, cobranças e foco. Por que não podemos atingir esta excelência em todos os setores do País?"

"Os alunos das escolas públicas de Sobral disputam as olimpíadas mundiais de matemática, mostrando que é possível ter educação de qualidade em cidades pobres. Os técnicos Bernadinho e Zé Roberto ganharam várias Olimpíadas e mundiais e mudaram a mentalidade do esporte brasileiro".

"A Ambev começou como uma grande cervejaria brasileira e hoje é a maior do mundo (através da ABI, Anheuser-Busch InBev). São três exemplos brasileiros de excelência mundial. Todos têm características parecidas: metas muito claras, medições constantes dos resultados, meritocracia e todos têm fanáticos que trabalham lá, gente que sonha grande, que prova que é possível".