Você fala a língua da programação?
Resumo da notícia
- A linguagem da programação vem se tornando uma habilidade cada vez mais importante
- Para especialistas, o domínio da programação será exigido em todas as carreiras
- O raciocínio lógico que o estudante desenvolve aprendendo programação pode ser um aliado em qualquer carreira que ele venha a escolher
Pode parecer fácil demais, mas com dois cliques é possível espiar atrás das cortinas do que faz essa página que você está lendo funcionar. Clicando com o botão direito do mouse em qualquer lugar da página e selecionando a opção "Exibir código-fonte", você estará olhando para as fórmulas nem um pouco mágicas que algum programador usou para criar este site.
À primeira vista, as linhas de códigos parecem um idioma desconhecido. Isso porque estes códigos estão escritos de acordo com uma linguagem de programação, ou seja, por um padrão usado para comunicar a um computador o que ele deve fazer. Diferentes linguagens são usadas para definir exatamente quais dados o sistema vai usar, como eles serão armazenados ou transmitidos e quais ações serão tomadas em quais circunstâncias.
Mas, apesar da aparência de bicho de sete cabeças, a programação vem se tornando uma habilidade cada vez mais importante na vida de todo mundo. "A programação está presente até onde nós nem percebemos", diz André Fujita, professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (USP). Os exemplos vão das linhas de montagem dos carros das grandes indústrias até chegar dentro de casa, ao escolhermos um modo de lavagem na máquina de lavar roupa ou uma receita na panela elétrica de arroz.
"Com a popularização da internet, smartphones, smart TVs, etc, a programação se torna cada vez mais próxima. E com o desenvolvimento de carros autônomos, internet das coisas, entre outras tecnologias, cada vez mais seremos obrigados a entender minimamente de programação", aponta o professor.
Na prática, a programação agiliza a nossa vida, fazendo com que máquinas executem rapidamente tarefas nas quais humanos demorariam muito mais e vem sendo incorporada a diversas áreas. Tanto é que a utilização de conceitos de uma linguagem de programação aparece na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como uma competência que precisa ser desenvolvida já na escola, ao lado dos conteúdos convencionais do currículo do ensino médio.
Terceira língua
"A programação vai se tornar algo de domínio geral, não apenas de conhecimento específico", diz a coordenadora educacional no Senac São Paulo, Fernanda Yamamoto. Isso quer dizer que o mercado vai exigir de todo profissional o domínio da linguagem dos códigos. O movimento é semelhante ao que aconteceu com a língua inglesa, exigida como uma segunda a língua. "Hoje a interação humano máquina é muito grande, então essa é uma competência básica", completa Yamamoto.
"A programação é útil em quase todas as carreiras", afirma Fujita. "Existem projetos aqui no nosso departamento que usam técnicas de inteligência artificial em direito. Na área de bioinformática, utilizam-se programas e técnicas avançadas para montagem de genomas e criação de modelos de prognóstico de doenças. No mercado financeiro, é inimaginável fazer todos os cálculos matemáticos sem um programa específico", exemplifica.
Para Yamamoto, o raciocínio lógico que o estudante desenvolve aprendendo programação pode ser um aliado em qualquer carreira que ele venha a escolher. Além disso, para aqueles que decidirem seguir no setor de tecnologia, ter aprendido a programar na escola pode dar uma vantagem para aprofundar os conhecimentos. "Tudo que fica natural na escola torna mais fácil entender, mais tarde, o desenvolvimento de linguagens mais sofisticadas".
Para o professor da USP, a computação está se tornando algo com uma utilidade tão cotidiana quanto a matemática ou a biologia. "Aprendemos matemática na escola, pois ela é útil desde o cálculo do troco da compra até para decidirmos se compramos à vista ou a prazo. Aprendemos biologia para entender porque não adianta tomar antibiótico quando temos uma infecção viral. O mesmo será com a programação. A programação básica será essencial para entendermos em que situações um respectivo programa falha ou por que determinado resultado demora muito para aparecer na tela".
Entender melhor como as tecnologias que usamos diariamente funcionam nos torna mais protagonistas deste cotidiano cada vez mais integrado a aplicativos e gadgets. Construindo aplicativos novos ou customizando softwares já existentes, é possível adequá-los às suas necessidades e gostos pessoais, por exemplo.
"Da experiência que a gente tem aqui, com os alunos do ensino médio técnico, é importante citar a emancipação do aluno. Aprendendo computação, você não é programado, você também pode programar. A ideia é conhecer por dentro para poder entender o todo - entender que a simples leitura de um texto na internet depende de uma linguagem de programação", conta Yamamoto.
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