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Catalunha quer que aluno participe da limpeza da escola na volta às aulas

Catalunha quer que alunos participem da limpeza e da desinfecção das escolas na volta às aulas - Divulgação/Prefeitura de Osasco
Catalunha quer que alunos participem da limpeza e da desinfecção das escolas na volta às aulas Imagem: Divulgação/Prefeitura de Osasco

Fina Iñiguez, correspondente em Barcelona

Da RFI

09/09/2020 11h08

O ano letivo nas escolas primárias e secundárias da Catalunha tem início previsto para a próxima segunda-feira (14), mas há uma controvérsia crescente entre pais de alunos a favor e contra o início das aulas presenciais. Uma associação de pais denuncia que o governo regional planeja incluir no programa curricular dos alunos "a limpeza e a desinfecção das escolas" e que não há segurança suficiente para prevenir o contágio do novo coronavírus.

A plataforma "Agrupamento de Famílias por uma Escolha Educativa Segura" (AFEE), formada por cerca de 1.700 famílias que se recusam a levar os filhos à escola, exige a possibilidade dos alunos acompanharem os cursos pela internet, enquanto não houver garantia de controle de contágio da covid-19.

As famílias denunciam que não há indícios de previsão no orçamento do governo para aumentar os serviços de limpeza nem a contratação de novos professores e auxiliares para ajudarem, principalmente na atenção às crianças nos estabelecimentos escolares.

O pivô da polêmica foi o anúncio feito na semana passada pelo Conselheiro da Educação do Governo da Catalunha, Josep Bargalló, de que neste ano letivo "os alunos iriam colaborar na limpeza dos elementos de uso comum, sem manipulação de produtos tóxicos", e com "valor educativo".

Em um comunicado à imprensa, a associação que reúne essas famílias disse que o governo da Catalunha vai converter os centros educacionais em "matadouros" e que os pais estão dispostos a assumir todas as consequências por não levarem seus filhos às aulas.

Na Espanha, a escolaridade não é obrigatória antes dos 6 anos de idade. Depois, dos 6 até os 16 anos de idade, o ensino torna-se obrigatório. Os pais podem pagar multa ou até serem presos, se não cumprirem com suas obrigações legais.

Por outro lado, a lei espanhola não prevê ações em casos de pandemia. Lola López, da Associação dos Advogados da Família, acredita que esses cenários de prisão ou multa são improváveis, mas considera também que os pais devem ser alertados de que não podem fazer o que quiserem com a educação dos filhos. Ela entende que o melhor é chegar a um consenso entre as escolas e os pais.

A postura da AFEE é minoritária, se comparada com a da Federação de Associações de Mães e Pais de Alunos da Catalunha (FaPaC), que é a maior federação regional, tanto em escolas primárias quanto secundárias, representando cerca de 500 mil famílias que defendem majoritariamente a volta às aulas presenciais, porém com ressalvas.

A diretora da FaPaC, Lidón Gasull, afirmou em uma entrevista recente que um terço dos alunos da Catalunha está em risco de exclusão social. Ela teme que as aulas online agravem a situação dessas crianças e adolescentes em particular, que podem se ver privados do ensino por não terem os recursos sociais, econômicos e educacionais para acompanhar o novo formato. Ela defende a volta presencial das aulas, mas critica o governo catalão, que tem a competência em matéria de educação, por não propor soluções consistentes para garantir o aprendizado presencial de forma segura. Ela acredita que uma parte significativa do ano letivo que está começando, devido à pandemia, vai acabar sendo feito pela internet.

Contraste entre escolas públicas e privadas

A RFI conversou com duas professoras de diferentes estabelecimentos, um particular e outro público, e ambas concordaram que, embora a maioria dos docentes prefira aulas presenciais, há inquietude e insegurança nesta "nova volta às aulas". Há uma sensação de responsabilidade extra para os professores. Além de dar conta de seu trabalho como educadores, eles deverão fiscalizar se os os alunos cumprem com as medidas sanitárias, tais como o uso obrigatório de máscara e gel hidroalcoólico, e o distanciamento físico. Também existem diferenças notáveis entre uma escola e outra.

Montserrat Martí, professora de ensino fundamental para crianças de 7 a 8 anos de idade numa escola particular de Esplugas de Llobregat, município a 10 quilômetros de Barcelona, disse que a escola fez diversas mudanças logísticas para encarar a nova fase: "Diminuiu o número de alunos por sala de aula (de 25 para 16, 17 ou 18); os grupos formados são estáveis e não se misturam uns com os outros; cada um terá o seu horário de recreio; e os alunos não poderão passear pela escola nem sair das salas nos intervalos das aulas".

Os professores também serão estáveis e terão seus movimentos restringidos, acrescenta Montserrat. "Apenas um professor de referência por grupo e um professor extra para as aulas de inglês, música ou educação física", explica a docente. A entrada dos alunos será feita de forma escalonada e com protocolos de prevenção tais como medir a temperatura corporal, que deve ser inferior a 37 graus, usar gel hidroalcoólico e máscara. "Criança com febre volta com os pais para casa e só pode retornar com um atestado médico", enfatiza a professora.

Já a professora María Vega Pérez García, que leciona língua e literatura espanhola no ensino médio para adolescentes de 14 a 17 anos de idade, em uma escola pública de La Verneda, bairro operário de Barcelona, afirma que o colégio não tem recursos para fazer mudanças logísticas e nem investir na contratação de novos professores. "As aulas vão continuar com 30 alunos e a responsabilidade de se proteger será individual", afirma.

Os alunos deverão usar máscara, mas não haverá medição de temperatura na entrada da escola. Se um aluno passar mal ou tiver algum sintoma da Covid-19, será isolado em uma sala, a família será chamada e o levará para casa. Quanto aos protocolos sanitários, "os professores e alunos deverão trazer seus kits pessoais de desinfecção de mesas e cadeiras, pois a escola não fornece os materiais", conclui María Vega.

O número de casos confirmados de coronavírus na Espanha chegou a 535 mil pessoas. Desde o início da epidemia, cerca de 30 mil morreram em decorrência da Covid-19. Na Catalunha, o número de casos confirmados era de 139.367 pacientes e 13.103 mortos até a noite de ontem.