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UPE sugere aplicar vestibular para estudantes com covid em hospital

Hospital Oswaldo Cruz, no Recife, um dos locais sugeridos para aplicação de prova - Reprodução/Google Street View
Hospital Oswaldo Cruz, no Recife, um dos locais sugeridos para aplicação de prova Imagem: Reprodução/Google Street View

Diogo Cavalcante

Colaboração para o UOL, no Recife

15/01/2021 17h21

Enquanto se discute a necessidade de adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a nível nacional, a Universidade de Pernambuco (UPE), tradicional instituição pública estadual, decidiu manter a aplicação de seu vestibular seriado (SSA) nos dias previstos, entre o final de janeiro e o início de fevereiro. Sem a possibilidade de aplicação de provas em outra data, caso algum estudante contraia a covid-19 até 14 dias antes das datas, a organização sugere a aplicação da prova no hospital, com presença de fiscal com equipamentos de proteção individual (EPIs).

A medida, chamada de regime especial de prova, não é uma novidade propriamente dita. Vigora, ao menos, desde o final dos anos 90 para casos excepcionais. Exemplo: um estudante que esteja em tratamento contra o câncer pode solicitar a medida para realizar o vestibular em outra localidade — hospital, casa ou onde for mais cômodo. Mas chama a atenção ela ser mantida no contexto da pandemia da covid. A UPE afirma ter "protocolos de biossegurança" para aplicação das provas.

"Independente da pandemia, isso já era uma política da universidade. Isso está escrito no manual do candidato", defende o pró-reitor da UPE, Ernani Martins, em conversa com o UOL. "O Enem tem reaplicação de prova porque usa a Teoria de Resposta ao Item (TRI). Já o SSA não é assim. Se a gente reaplica a prova, o candidato já sabe o que vai cair", alega. Questionado se não poderia ser feita, excepcionalmente, uma outra prova com aplicação em outro dia por causa da situação sanitária, Ernani diz que isso seria "ferir a isonomia" do certame e acha "pouco provável" a medida ser revista.

"Nossa prova não é pautada em habilidades e competências, e sim estatística e descritiva, como nos vestibulares da Unicamp e Fuvest. Nenhum desses exames tem reaplicação. Nosso vestibular segue as diretrizes curriculares do estado de Pernambuco. (Prova de) Habilidades e competências só serão aderidas a partir do momento em que houver a reforma educacional do ensino médio. As habilidades e competências na nossa prova são transversais, diferente do Enem, que usa a Teoria de Resposta ao Item (TRI)", prossegue.

Dentre os locais em que as provas poderão ser aplicadas a um candidato doente, uma possibilidade é o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), localizado no bairro de Santo Amaro, área central do Recife. O local é uma dos centros de referência no tratamento da covid no estado. "A equipe analisa se vai fazer no Oswaldo Cruz ou na casa do candidato", exemplifica.

Já quem apresentar sintomas no dia será orientado a ficar em uma sala isolada nos locais de aplicação para fazer a prova, em condições semelhantes aos demais candidatos, sob fiscalização de fiscais e orientação de profissionais de saúde. "Todos os prédios (onde terá prova) têm salas especiais. Um profissional de saúde que vai acompanhar isso. Não temos como diagnosticar o candidato no dia da prova, mas por garantia a gente vai fazer isso", explica o pró-reitor.

Os candidatos devem seguir as regras sanitárias na prova, como distanciamento social e uso de máscara. Máscaras de reserva poderão ser levadas, desde que guardadas em embalagem própria, que devem ser utilizadas também para seu descarte após o uso. Recomenda-se a troca a cada duas horas.

Como funciona

Para solicitar o regime especial de prova, o aluno precisa encaminhar laudos médicos à UPE. Uma equipe de saúde da instituição analisa a situação e avalia o local mais adequado para aplicação da prova. No caso da covid-19, é necessário apresentar um exame do tipo RT-PCR, feito até 14 dias antes do vestibular, ou um diagnóstico médico. A medida vale tanto no Recife quanto no interior do estado.

"[A prova] pode ser aplicada em casa, num hospital particular ou no Oswaldo Cruz, que tem uma ala especial infectocontagiosa. Exemplo: tem um candidato assintomático. Ele vai para a ala. Tem um fiscal lá com todo o protocolo de biossegurança", pontua Ernani.

Visão médica

Na opinião da infectologista Raquel Stucchi, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), as alternativas dadas pela UPE são válidas, desde que sejam assegurados fatores de segurança sanitária. "Tenho uma opinião um pouco diferente dos outros colegas. Desde que tenha existido um planejamento adequado para diminuir o número dos alunos em sala; que o planejamento do vestibular tenha incluído abrir o portão bem mais cedo, para não ter aglomeração nos portões; e tenha álcool em gel disponibilizado, acho que a prova pode ocorrer", opina.

"Nós tivemos dois grandes vestibulares nacionais que aconteceram nas últimas semanas dentro dessas regras todas: o da Unicamp e da Fuvest. Inclusive, acho que esse de Pernambuco está sendo até mais avançado, vamos dizer assim, porque permite a realização da prova por quem tem covid. Na Unicamp, um aluno não pôde fazer a prova", pondera.

Já o infectologista Gabriel Serrano acredita que o cenário planejado não considera que podem acontecer erros de percurso. Ele cita a teoria do queijo suíço, em que cada fatia tem buracos. Neste caso, cada medida de segurança tem uma falha. E quando essas falhas acabam alinhadas, ocorrem os incidentes.

"Quando você fala de máscara, nem todas protegem igual. Uma de pano não é tão boa quanto uma N95. Em alguns casos, acredito que as salas serão climatizadas e ficarão fechadas. Se um aluno desse baixar a máscara para tomar água e acabar tossindo ou espirrando, você tem um risco ali aumentado, por manter muita gente dentro da mesma sala por muito tempo, mesmo que haja diminuição no número de pessoas dentro", analisa.

Outro ponto que Gabriel acredita que deveria ter sido levado em consideração são os contatos de pessoas infectadas: "Exemplo: alguém que está em casa com o pai doente. Teve contato com ele e cumpre período de isolamento. Ela pode estar infectada e acabar transmitindo (a covid). Poderia ter duas salas para sintomáticos e duas para contactantes dentro de cada colégio", cita.

O que é SSA

SSA significa Sistema Seriado de Avaliação, conhecido popularmente como vestibular seriado. Nesse modelo, o estudante realiza uma prova em cada ano do ensino médio e a classificação final de seu desempenho no processo. 50% das vagas na UPE são ofertadas nessa modalidade.

As provas da primeira fase estão previstas para 31 de janeiro e 1º de fevereiro, pela manhã. As da segunda fase também serão em 31 de janeiro e 1º de fevereiro, mas à tarde. Já as da terceira fase serão aplicadas nos dias 4 e 5 de fevereiro, pela manhã.

Segundo o pró-reitor, a prova deve ser feita por 26.347 estudantes na primeira fase, 22.835 na segunda e 14.282 na terceira - ao todo, 63.464 candidatos -.