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Unicamp 2021: 2ª fase tem prova engajada e exigente

Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo
Imagem: Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo

Guilherme Botacini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

09/02/2021 22h33

A segunda fase do vestibular da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que aconteceu ontem e hoje, exigiu dos candidatos bastante estudo, habilidades e conteúdos, segundo professores de cursinhos ouvidos pelo UOL. Em parceria com o Objetivo, o UOL faz a correção da prova.

"Foi um exame muito inteligente e sofisticado, com temas atuais, forte característica de crítica social e que exigiu bastante leitura e rigor", diz Daniel Perry, diretor do Curso Anglo.

Além disso, a prova foi bastante contextualizada e atual em todas as áreas do conhecimento. Foram abordados temas como a pandemia do coronavírus, as queimadas no pantanal e o incêndio no Museu Nacional, em 2018.

"Isso indica o tipo de estudante que a universidade deseja: alguém com capacidade analítica e crítica muito aguçada, com vasto repertório cultural e que saiba ler o mundo à sua volta", completa Perry.

Segundo a Comvest, comissão que organiza o vestibular, a segunda fase teve o menor índice de abstenção dos últimos dez anos, 8,8%. No ano passado, o índice foi de 11%.

A primeira chamada dos aprovados será divulgada no dia 10 de março, pelo site oficial.

Como foi o 1º dia: redação e linguagens

No primeiro dia, a redação teve temas extremamente atuais. A Unicamp pediu que o aluno escolhesse entre duas propostas. Na primeira, o candidato deveria escrever um discurso a respeito da derrubada de estátuas, sendo um candidato a vereador se dirigindo a um grupo de estudantes.

Na outra proposta, era preciso escrever um texto de entrada para um diário de um trabalhador que deve continuar trabalhando apesar do risco de contrair a covid-19.

Os textos de apoio da segunda proposta falavam sobre o conceito de necropolítica e sobre racismo. "Eles eram a chave para o aluno entender quem são os mais afetados na pandemia", diz Gabrielle Cavalin, coordenadora de redação do Curso Poliedro Campinas.

Na prova de língua portuguesa, foram feitas perguntas sobre os sermões do padre Antônio Vieira, o livro A Falência, de Júlia Lopes de Almeida, e sobre os Racionais MCs, grupo de rap que não é novidade no vestibular da Unicamp.

"A Unicamp costuma ter uma lista grande e complexa de livros exigidos, mas, mesmo com a redução devido à pandemia, foi pouco explorada", diz Serginho Henrique, professor de português do Objetivo.

Elogiada por professores, a prova deu bastante ênfase em interpretação. Houve questões sobre o capacitismo, preconceito contra pessoas com deficiência, a partir de vídeo de Regina Casé, e sobre o documentário "O Dilema das Redes", sobre redes sociais.

A prova de inglês também demonstrou o engajamento. Falou sobre Rosa Parks (sem nomeá-la), mulher negra que se recusou a obedecer a leis racistas nos Estados Unidos na metade do século 20 e foi o gatilho para os movimentos pelos direitos civis.

2º dia: prova difícil e engajada

As provas do segundo dia foram, de maneira geral, exigentes e difíceis, segundo professores ouvidos pela reportagem.

A prova de matemática, comum a todos os candidatos, trouxe uma mistura de questões contextualizadas e de matemática pura.

Uma delas exigiu interpretação de tabela e o cálculo de média, conceito da estatística, no contexto da pandemia da covid-19. Outra falou sobre queimadas em biomas brasileiros.

Em outra questão contextualizada, a prova pediu que o aluno usasse conceitos de geometria analítica em um mapa para resolver uma situação-problema relativa ao derramamento de óleo no oceano.

Em questões mais técnicas, a prova cobrou conteúdos como matriz com elementos trigonométricos e funções polinomiais.

A prova de física foi a única prova avaliada como relativamente tranquila. "Foi uma prova tradicional, conteudista, mas com abordagem dos conteúdos de maneira clara", diz Thomas Haupt, professor de física do Objetivo.

A prova de ciências biológicas foi considerada bastante difícil pelos professores ouvidos, em especial as questões de biologia.

"A prova foi bastante exigente, de nível complexo, que alunos muito bem preparados teriam certa dificuldade. Muitas perguntas pediam respostas longas", diz Guilherme Francisco, professor de biologia do Objetivo.

A covid apareceu na prova de biologia em questões sobre os mecanismos de replicação do vírus, sobre a definição de pandemia e sobre mecanismos de vacinação e imunização.

A prova de ciências humanas não fugiu do padrão da segunda fase: trouxe leituras densas em questões de geografia, história e sociologia e exigiu análise rigorosa.

"Em geografia, a prova exigiu conhecimento de até cinco conceitos em uma única questão", diz Eduardo Britto, professor de geografia do Objetivo. Apareceram questões sobre empresas multinacionais, recursos hídricos e queimadas no pantanal, entre outras.

A prova de história estava trabalhosa. "Foi uma prova para uma análise contemporânea muito densa, muito além de uma análise factual, puramente política ou econômica", diz Ricardo Felipe, professor de história do Objetivo.

Foram abordados assuntos bastante relevantes como a crítica ao eurocentrismo, discussões sobre patrimônio cultural, quilombos, manifestações no Chile e violação dos direitos humanos.