56% dos alfabetizados têm dificuldade em compra online e troca de mensagens

Uma pesquisa divulgada hoje mostra que 56% das pessoas alfabetizadas no Brasil têm baixo ou médio desempenho em tarefas digitais como concluir uma comprar online de um par de tênis a partir de um anúncio em rede social.
O que aconteceu
97% dos analfabetos funcionais conseguem realizar apenas um número limitado de tarefas na internet. Os dados são referentes ao Inaf (Indicador de Analfabetismo Funcional), que pela primeira vez analisou a alfabetização no contexto digital. O levantamento, coordenado pela Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social, existe desde 2001.
Jovens mais escolarizados entre 20 e 29 anos tiveram melhor desempenho nas atividades online. Segundo a pesquisa, 38% desse grupo teve alto desempenho nas atividades na internet, enquanto entre brasileiros de 40 a 49 anos o indicador máximo ficou em 17%, e entre quem tem 50 a 64 anos, 6%.
Porém, nem todos se saíram bem nas mesmas atividades. Enquanto os mais jovens (15 a 29 anos) foram melhores na escolha de filmes, a faixa de 40 a 49 anos superou todos os demais grupos no critério inscrição em evento. "Percebemos que a ideia de nativo digital tem limites. Vai se sair bem nas atividades aquele que nasce em uma casa com ambiente digital disponível", afirma Ana Lima, coordenadora do estudo.
O levantamento propôs três atividades diferentes na internet. Na primeira, o entrevistado deveria realizar a compra online de um par de tênis a partir de um anúncio na rede social. Era necessário escolher o produto, o número do tênis e concluir a compra. A segunda tarefa envolvia uma conversa em aplicativo de mensagens entre amigos que combinavam assistir um filme. Era preciso acessar um aplicativo de streaming também. Já na terceira situação, o entrevistado precisava inscrever um colega em um evento por meio de um formulário online, incluindo a criação de senha e o envio de foto ou documento.
A pesquisa evidencia que há uma relação entre alfabetização digital e analógica, mas ela não é absoluta. "Não é porque uma pessoa é alfabetizada no mundo analógico que ela terá o mesmo desempenho no ambiente digital", diz a coordenadora do estudo.
O estudo foi realizado com 2.554 pessoas de 15 a 64 anos em todo o país. O levantamento ocorreu entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. Também foram feitos testes de leitura, escrita e matemática sobre atividades do dia a dia feito no papel.
A desigualdade emerge quando o indivíduo não tem referências sólidas para discernir o que é real e de qualidade no mundo digital, ficando à mercê da manipulação e da desinformação. Portanto, o direito ao acesso e ao exercício da cidadania passa, também, pelo letramento digital. Os dados do Inaf mostram que, mesmo entre os que têm alfabetismo consolidado, ainda há barreiras importantes nesse campo.Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú
Diferença entre alfabetismo funcional, elementar e consolidado
Analfabetos funcionais são pessoas que conseguem identificar palavras isoladas ou ler frases muito simples, mas não são capazes de compreender, por exemplo, uma notícia de jornal. "O analfabeto funcional lê textos simples, curtos, palavras isoladas. Ele entende coisas familiares, como um recibo do mercado, resultado de jogo, receita de bolo, mas não interpreta uma tabela, um gráfico ou as nuances de uma matéria jornalística", explica Lima.
Já os indivíduos no nível elementar de alfabetização conseguem ler frases mais longas e localizar informações explícitas em pequenos textos. Mas ainda têm muita dificuldade para lidar com materiais mais complexos, como interpretar uma tabela ou entender uma opinião embutida em um texto. Quem atinge o nível de alfabetismo consolidado consegue ler e compreender integralmente notícias, textos opinativos, tabelas, gráficos e identificar nuances como ironia ou a distinção entre fato e opinião.
Saron lembra que é necessário agir em múltiplas frentes para enfrentar os desafios da alfabetização tanto no mundo analógico quanto no digital, o que só será possível com uma ação articulada entre governos, empresas, universidades e sociedade civil.
Na Educação Básica, precisamos garantir acesso universal à Educação Infantil, fortalecer a formação docente e ampliar escolas de tempo integral que integrem ciência, arte, cultura e esportes. Na Educação Profissional, é essencial ampliar o Ensino Técnico com foco em inclusão produtiva.
No digital, precisamos promover o letramento crítico e simbólico, assegurando que todos desenvolvam não apenas habilidades operacionais, mas também capacidade de análise, expressão e discernimento no uso das tecnologias.Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú
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