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Alunos passam a noite no Centro Paula Souza contra cortes na merenda

Em São Paulo

29/04/2016 11h20

Estudantes das Escolas Técnicas do Estado de São Paulo (Etecs) passaram a madrugada desta sexta-feira (29) na sede do Centro Paula Souza - autarquia estadual responsável pela administração das unidades. Eles protestam contra cortes na merenda e afirmam que só sairão quando a instituição garantir comida para todos os alunos das Etecs.

Pela manhã, os alunos das Etecs, com apoio pela primeira vez neste ano de secundaristas, fizeram uma manifestação na Avenida Paulista e depois seguiram para o prédio da Secretaria Estadual de Educação, na Praça da República, região central. Ali decidiram em assembleia que, se a diretora-superintendente do Paula Souza, Laura Laganá, não os recebesse, a sede da autarquia, na Rua dos Andradas, no centro, seria ocupada.

A invasão teve início por volta das 14h20. Na hora em que os alunos começaram a pular os portões, houve confusão com a Polícia Militar, que acompanhava tudo a distância. Os PMs tentaram deter a ocupação usando spray de pimenta. "Nós só estamos reivindicando nosso direito, que é ter merenda, e fomos atacados com truculência", disse Beatriz Calderon, de 16 anos, aluna da Escola Técnica Estadual São Paulo (Etesp).

Gabriel Ramos, de 60 anos, dono de um salão de beleza na frente do prédio, disse que teve de fechar o estabelecimento porque os alunos correram para dentro do salão para fugir dos policiais. "Até eu levei spray de pimenta nos olhos."

A repórter Annie Zanetti, da Rádio CBN de São Paulo, também foi atingida por um jato de spray de pimenta. O caso mereceu repúdio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que considerou a intervenção abusiva e cobrou a identificação e punição do agente envolvido.

Comida seca

No dia 20, reportagem do Estado mostrou que em algumas Etecs os alunos recebem apenas a comida seca (bolachas, barra de cereal e suco), que às vezes não é distribuída por semanas. Em outras, não há nenhum fornecimento. Na ocasião, o Centro Paula Souza admitiu o problema e disse que trabalhava para solucionar "questões pontuais", com a readequação da estrutura e negociação com as prefeituras e a Secretaria Estadual da Educação.

Icaro Bendas, de 16 anos, da Etec Guaracy Silveira, em Pinheiros, diz que nunca recebeu merenda. "Eu moro em Osasco, levo duas horas até a escola e fico sem comer. Quando dá a gente leva marmita, mas não temos onde esquentá-la."

Outros reclamam da redução nos produtos ofertados. "A gente recebia duas barrinhas de cereal e um suco. Agora, é só uma barrinha e tem dia sem suco", afirmou Luana Sorbini, de 16 anos, da Etec Camargo Aranha.

Greve

Professores e diretores do Sindicato dos Funcionários do Centro Paula Souza (Sinteps) apoiaram a ocupação e disseram que a categoria estuda entrar em greve nos próximos dias. Uma assembleia está marcada para esta sexta-feira.

"A precariedade é generalizada. Nós não temos reajuste salarial há três anos, existe um déficit gigantesco de funcionários e nenhuma estrutura para dar aula", disse a diretora Sirlene Maciel.

A Superintendência do Centro Paula Souza informou que recebeu documento com reivindicações e se dispôs a dialogar com uma comissão de alunos. "Até o momento, não se obteve resposta do grupo de manifestantes", disse em nota oficial. A PM alegou ter agido para evitar a invasão e "garantir a segurança dos envolvidos". Em assembleia, à noite, os alunos decidiram manter a ocupação.