Até o último aluno

Professora de vilarejo russo só vai se aposentar após único pupilo deixar escola

Alexey Malgavko Da Reuters, em Sibilyakovo (Rússia) Reuters/ Alexey Malgavko

Uminur Kuchukova, 61, poderia ter se aposentado anos atrás, mas continua lecionando na escola antes movimentada neste vilarejo russo moribundo por causa de seu último aluno, um menino de 9 anos. Quando ela partir no ano que vem, a escola fechará.

Assim como milhares de vilarejos por toda a Rússia, o vilarejo siberiano remoto de Sibilyakovo foi esvaziado após o fechamento da fazenda coletiva estatal, depois do colapso da economia planificada soviética em 1991. Os empregos escassearam e as pessoas partiram em grande número.

Em seu auge nos anos 70, a escola primária de Sibilyakovo tinha quatro turmas, cada uma com cerca de 18 crianças, e uma população de 550 habitantes. Kuchukova lecionou na escola por 42 anos.

Atualmente, a casa dela dá vista para casas abandonadas por todos os lados. A população do vilarejo encolheu para 39 e Ravil Izhmukhametov é o único aluno da escola.

Reuters/ Alexey Malgavko
Reuters/ Alexey Malgavko Reuters/ Alexey Malgavko

Kuchukova comprou uma casa na cidade de Tara, a cerca de 50 km de distância. Ela planeja se aposentar e morar lá com seu marido ao final do ano letivo, quando acredita que Ravil já terá idade suficiente para viajar para o vilarejo vizinho para estudar.

A escola mais próxima ficará a uma viagem de 30 minutos de barco pelo agitado rio Irtysh, seguida por uma viagem de 20 minutos em um ônibus escolar.

"Lamento por ele. Os pais dele ainda não querem partir [de Sibilyakovo] e é assustador enviar um menino pequeno como ele em uma viagem pelo Irtysh, pois as ondas são grandes", ela disse.

O vilarejo é habitado principalmente por tártaros, um grupo turcomano que é uma das muitas minorias étnicas da Rússia.

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Os pais de Ravil são produtores rurais que possuem animais de criação, mas não querem que o filho permaneça no vilarejo quando crescer.
"Nosso filho mais velho vive na cidade e estamos felizes com isso", disse o pai de Ravil, Dinar Izhmukhametov, 48.

O filho afirma não ter interesse de se mudar para uma cidade, mas sabe que algum dia não terá opção.

Ele não entendeu quando perguntado como era ir a uma escola sem colegas de classe. "Não tenho nada com que comparar, mas é claro que gostaria de ter amigos, então estou ansioso para mudar de escola."

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Olhando para sua carreira de décadas, Kuchukova está triste com o fato de que a escola na qual trabalhou por mais de quatro décadas em breve fechará suas portas definitivamente.

"Agora ficará lá como nos vilarejos vizinhos, sem ser necessária para ninguém, enquanto as pessoas nas cidades não conseguem encontrar vagas na pré-escola para seus filhos e já entram na fila de espera assim que nascem", ela diz.

Mas mesmo após finalmente passar a morar em Tara, ela não deixará seu passado para trás.

"Meus pais estão enterrados aqui, uma parte de mim está aqui. Virei todos os dias de finados para cá, para lembrar daqueles que já se foram. (...) Viremos para cuidar dos túmulos."

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