A Revolução Francesa Explicada à Minha Neta
A base de uma esperança Oscar D'Ambrosio
Costuma-se delimitar a Revolução Francesa de 5 de maio de 1789 a 9 de novembro de 1799. Trata-se de um período que modificou significativamente o quadro político e social da França. Houve a derrubada do Antigo Regime, dominado pelo clero e pela nobreza, e a instauração de um mundo em que a burguesia passou a dar as cartas, fortalecendo uma sociedade liberal.
Influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Independência Americana (1776), a Revolução é considerada o marco inicial da Idade Contemporânea, principalmente por ter abolido a servidão e proclamado os princípios universais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. No entanto, essa história não é linear. Está repleta de avanços e retrocessos, de lutas pelo poder, idealismo e violência.
Neste livro, o desafio de Michel Vovelle, um dos mais conhecidos historiadores franceses contemporâneos, é explicar a complexidade e as contradições da Revolução, uma das principais da humanidade, para sua neta, uma garota de 14 anos. Surpreende a forma como ele consegue refletir sobre os principais fatos históricos, fazendo comentários, de maneira didática e agradável, já que o livro é todo redigido na forma de diálogo.
É enfatizado o fato de o término dos privilégios da nobreza e do clero serem um passo importante para motivar outros movimentos revolucionários pela igualdade. O livro se debruça, em linhas gerais, sobre o que era a monarquia constitucional que dominava a França, sua queda e os períodos que a Revolução passou: a Assembléia Constituinte, a Assembléia Legislativa, a Convenção e o Diretório.
A explicação sobre a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão é um dos pontos altos da obra. Ela nasce dentro do espírito da Assembléia Nacional Constituinte, que aprovou uma legislação que abolia o regime feudal e senhorial, suprimia o dízimo e proibia a venda de cargos públicos e a isenção tributária das camadas privilegiadas.
Inspirada na Declaração de Independência dos Estados Unidos, a Declaração francesa, certamente sob alguma influência do embaixador dos EUA em Paris, Thomas Jefferson, é um documento que funciona como síntese do pensamento iluminista liberal e burguês, enfatizando o direito de todos à liberdade, à propriedade, à igualdade jurídica e de resistência à opressão.
Por meio de numerosos questionamentos, a neta obriga o historiador a refletir sobre os caminhos que a Revolução Francesa tomou. Uma conclusão importante é que, embora os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade fossem amplamente divulgados e constituíssem uma esperança, a desigualdade social e a riqueza, ao contrário do que se queria inicialmente, continuaram existindo.
O critério que passou a determinar a desigualdade deixou de ser o do nascimento, o da tradição e o do sangue. O dinheiro e a propriedade passaram a determinar, em boa parte, os destinos das pessoas. Se a Revolução, como conta o avô, derrubou o feudalismo, não conseguiu - naquele momento e até hoje - sucesso em questões como a conquista da liberdade da mulher e a eliminação das injustiças econômicas. Mas essa já e uma outra história para a neta de Vovelle perguntar.
A Revolução Francesa explicada à minha neta
Michel Vovelle, tradução Fernando Santos
Editora UNESP
102 páginas
Fonte: jornalista, mestre em artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é crítico de arte e integra a Associação Internacional de Críticos de Artes (Aica - Seção Brasil).