Está nos jornais, nos livros didáticos, nas campanhas das mais diversas organizações ambientalistas: o número de animais em vias de extinção cresce diariamente. Portanto, à primeira vista, parece lógico, como uma entre várias medidas preservacionistas, incluí-los na lista das espécies ameaçadas. E, acreditam muitos, uma vez nesse rol, haveria mais chances de serem protegidos, certo? Errado. Na verdade muitas dessas listas, longe de protegerem os animais, aumentam sua procura por colecionadores e servem como verdadeiros guias para os caçadores ilegais.

Quem faz tal afirmação é o biólogo molecular Fernando Reinach, no artigo "Lista de espécies ameaçadas pode ajudar extinção", incluído no livro "A longa marcha dos grilos canibais e outras crônicas sobre a vida no planeta Terra", uma coletânea de seus textos publicados entre 2004 e 2009 no jornal "O Estado de S. Paulo".

Formado em biologia na USP e Ph.D. pela Universidade de Cornell, nos EUA, Reinach neste livro compara uma descoberta científica a uma "pequena história de aventura". Na Introdução ele afirma: "Partindo da segurança de um lugar conhecido, a expedição penetra em território inexplorado. O que se encontra pode ser imprevisto ou inacreditável. Muitas vezes a aventura é apenas divertida, outras vezes nos força a mudar crenças centenárias".

Com essa concepção do que é ciência, Reinach se dedica aos mais diversos temas, sempre motivado por seus interesses, sem descuidar, porém, do texto em si, cujo formato é o mesmo de trabalhos científicos, ou seja: "Primeiro descreve o local de onde a expedição partiu e o que imaginamos que sabemos sobre o assunto. À expedição propriamente dita, experimento a experimento, segue-se a descrição do que foi observado. Por fim, o texto fecha com um parágrafo no qual me permito dar vazão à imaginação e especular sobre o significado do que descobrimos durante a aventura", esclarece.

Curtos, pouco menos de duas páginas cada um, os textos foram agrupados em onze grandes temas, entre os quais Ambiente, Florestas, Comportamento, Mente, Arte, Tecnologia e Alimentação, e trazem sempre a indicação de uma fonte para os interessados em ir mais longe na "expedição".

Distanciando-se o máximo possível do jargão acadêmico-científico, o autor opta pelas analogias com fatos do cotidiano e aposta em uma abordagem pouco usual, como em "O ponto de vista do milho", em que um representante desta espécie lhe dirige uma carta para explicar por que os humanos, atualmente, não passam de escravos desse grão.

A longa marcha dos grilos canibais e outras crônicas sobre a vida no planeta Terra

Fernando Reinach

São Paulo - Companhia das Letras - 2010

400 páginas

é historiadora e jornalista.