BrHistória

Revista respeita a inteligência do leitor

Túlio Vilela

Nos últimos anos, diferentes editoras lançaram revistas devotadas à divulgação da História. Algumas se caracterizam por uma abordagem sensacionalista do tema, confundindo "divulgação científica" com banalização. Outras se caracterizam por uma abordagem séria, que respeita a inteligência dos leitores. Dentre essas, está a revista "BrHistória", publicada pela Duetto Editorial.

A Duetto já havia lançado alguns anos atrás "História Viva", edição brasileira da revista francesa Historia, da editora Tailandier, da França. Mais ou menos na mesma época, a editora Vera Cruz lançou a revista "Nossa História". Durante sua primeira fase, a Vera Cruz co-editou a revista com a Biblioteca Nacional, sediada no Rio Janeiro. Em sua segunda fase, "Nossa História" passou a ser totalmente produzida pela Vera Cruz. A Biblioteca Nacional lançou uma publicação concorrente, a "Revista de História".

De certa forma, as revistas "História Viva" e "Nossa História" eram complementares. A primeira enfatizava a chamada história geral, com traduções de artigos escritos por alguns dos grandes nomes da historiografia francesa (que sempre exerceu forte influência no meio acadêmico brasileiro) e um ou outro artigo ocasional escrito por autor brasileiro.

Já a segunda era totalmente devotada à história do Brasil, com artigos escritos, em sua maioria, por alguns dos mais conceituados pesquisadores das principais universidades públicas brasileiras . Foi "Nossa História" que acabou dando origem a "BrHistória".

Em seu primeiro número, essa revista já começou muito bem. A matéria de capa era sobre a Guerilha do Araguaia, que por se tratar de um episódio da época do regime militar, ainda desperta discussões acaloradas dentro e fora do meio acadêmico. A matéria de autoria de Hugo Studart, jornalista, mestre em história e autor de um livro sobre o assunto, chama a atenção pela isenção do autor.

Embora tenha como principal objetivo denunciar as torturas cometidas pelo Regime Militar, Studart não se deixa levar pelo maniqueísmo e nem pelo romantismo ingênuo, ao denunciar também os "justiçamentos", as execuções sumárias realizadas por guerrilheiros contra os que chamavam de "inimigos da revolução".

A mesma edição traz um artigo sobre festas religiosas no período colonial, de autoria da conceituada historiadora Mary Del Priore, colaboradora regular da revista. O primeiro entrevistado pela revista foi o historiador e diplomata brasileiro Evaldo Cabral de Mello, que expõe de maneira franca, "sem papas na língua", suas opiniões a respeito da historiografia brasileira.

Nas edições seguintes, a revista manteve o nível da estréia. Exemplo disso é o quarto número que publicou artigos de diferentes especialistas sobre a permanência das idéias monarquistas no Brasil após a proclamação da República e as tentativas dos descendentes da família imperial de voltar ao poder. O que chama a atenção nos artigos é que os defensores da volta da monarquia não foram retratados de maneira cômica ou folclórica.

"BrHistória" é uma publicação que pode ser de grande utilidade para professores de história dos ensinos fundamental e médio. Em primeiro lugar por seus artigos fazerem uma espécie de síntese da historiografia mais recente, o que permite aos professores entrarem em contato com novas interpretações sobre diversos fatos da história do Brasil e se desfazerem de antigas interpretações equivocadas, que acabaram eternizadas em muitos livros didáticos.

Ao ler a revista, muitos professores podem se perguntar se é conveniente apresentar os artigos aos alunos, para serem lidos e trabalhados em sala de aula. É preciso levar em consideração que os textos da revista tanto no estilo, que é acadêmico mas sem ser pedante, quanto na variedade de assuntos tratados, estão bem acima do nível médio das salas de aula de nossas escolas. Afinal de contas, o público-alvo de BrHistória não é formado por adolescentes. A revista foi feita para um público mais maduro (que inclui estudantes universitários, professores e interessados em geral) e com certo grau de escolaridade.

A publicação deve ser considerada como uma referência para os professores prepararem suas aulas e não como material didático ou paradidático. Ou seja, caberá ao professor "traduzir" para os alunos aquilo que encontrou na revista. O que pode ser aproveitado de forma mais direta é a iconografia.

As ilustrações das matérias, especialmente fotografias de personalidades que os alunos só ouviram dizer o nome ou conheceram apenas na interpretação de atores em filmes ou telenovelas, podem enriquecer as aulas e torná-las mais motivadoras para os alunos.

BrHistória

Duetto Editorial

Editora: Cristiane Costa

Periodicidade: Mensal
 

Fonte: formado em história pela USP, é professor da rede pública do Estado de São Paulo e um dos autores de "Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula" (Editora Contexto).

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