Historiografia

Guia politicamente incorreto da História do Brasil

Dida Bessana

Depois de Eduardo Bueno, com "Brasil, terra a vista", "A coroa, a cruz e a espada", "Náufragos, traficantes e degredados", e de Laurentino Gomes, com "1808", mais um livro sobre a História do Brasil chegou às listas dos mais vendidos, fato que não é comum em nosso mercado editorial.

O "Guia politicamente incorreto da História do Brasil" (Editora Leya, 320 p.), do jornalista Leandro Norlach, ex-repórter da revista Veja e ex-editor das revistas Aventuras na História e Superinteressante, não se dedica a um único assunto nem a um período específico. Seu objetivo, como explica na Introdução, é apresentar ao público "Uma pequena coletânea de pesquisas históricas sérias, irritantes e desagradáveis, escolhidas com o objetivo de enfurecer um bom número de cidadãos"; e o faz apontando para outra perspectiva historiográfica - a que postula que não se pode pesquisar e, sobretudo, escrever a história tendo por base opiniões a priori sobre o objeto investigado, pois essa conduta apenas torce/distorce os dados para fazê-los se encaixarem em uma concepção de mundo predeterminada, com vistas tão só a corroborar a linha teórico-metodológica ao qual o pesquisador está filiado.

Norlach rejeita o maniqueísmo vítimas/algozes ou vilões/herois e seleciona como fontes trabalhos feitos nos últimos 15-20 anos, os quais fornecem novas informações sobre temas essenciais na formação e consolidação da identidade nacional. Tais trabalhos tiveram o cuidado, ou a ousadia, de considerar o sujeito histórico em seu tempo, com seus limites e contradições, respeitaram os fatos e permitiram que estes levassem às conclusões.

Para ficarmos em apenas um exemplo, o jornalista, mencionando, entre outras, as investigações do historiador Eduardo França Paiva, apoiado em vasta documentação, mostra como um número significativo de cativos ganhou a liberdade e passou a ter escravos. Bárbara Gomes de Abreu e Lima tinha sete, e diversas outras negras forras seguiram seu modelo, fazendo fortuna. Já por volta de 1830, quem se viu livre da escravidão foi José Francisco dos Santos, conhecido como Zé Alfaiate, que voltou à África e se transformou em traficante de escravos. Tempos depois casou-se com uma das filhas de Francisco Félix, o maior vendedor de gente da África atlântica. As 112 cartas escritas pelo ex-escravo entre 1844 e 1871, que tratam de seus negócios com Salvador, Rio de Janeiro, Havana, Bristol e Marselha, foram obtidas pelo etnólogo Pierre Verger diretamente de um neto do próprio Zé Alfaiate.

Longe, portanto, das concepções cristalizadas, a contracorrente é a tônica de todos os capítulos, que abordam das relações dos índios com os portugueses no Brasil Colônia ao papel dos comunistas na política nacional a partir de 1930, passando ainda pela Guerra do Paraguai, a obra do mestre barroco Aleijadinho, a questão do Acre e os primórdios do samba, entre outros assuntos.
 

Guia politicamente incorreto da História do Brasil

Leandro Norlach

Editora Leya

320 págs.
 

Fonte: é historiadora.

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