Jango, um Perfil (1945-1964)

Mais do que uma biografia, um painel da história do período


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"Jango: Um Perfil (1945-1964)", de Marco Antonio Villa, reconta, com vasto apoio bibliográfico e documental, a trajetória de João Goulart. Começa com a descrição da proximidade - política e pessoal - de Jango com Getúlio Vargas. As duas famílias foram tão próximas que Jango chegou mesmo a cuidar dos negócios dos Vargas, por algum tempo administrando a estância do ditador estadonovista.

Paralelamente, o Brasil vê o início da política trabalhista, impulsionada por Getúlio e, a seguir, por Jango - que cada vez mais trabalhava pelo incremento político-eleitoral do PTB. Villa detém-se em cada um dos anos que levaram Goulart à presidência, fazendo inclusive um retrato do breve governo de Jânio Quadros, quando Jango, então seu vice, surpreendeu-se, durante viagem a alguns países socialistas, ao descobrir que havia se tornado presidente da República.

A descrição de sua volta ao Brasil, no texto hábil do historiador, assume ares dramáticos, com o périplo em diversos aeroportos e depois a resistência legalista de Leonel Brizola. Desde já, Villa nota a habilidade que Jango tinha para fazer acordos e concessões e demonstra como a adoção do parlamentarismo foi utilizada por Jango para acalmar os militares e conduzi-lo ao poder.

Em diversos momentos, Villa mostra o descuido - para não falar em desleixo - político de João Goulart. Portador de uma cópia da carta-testamento de Vargas, Jango simplesmente deixou de lê-la naquela fatídica noite (justamente ele, que recebeu a incumbência de divulgá-la com pressa no Rio Grande do Sul) porque estava muito cansado e precisava dormir.

É no mínimo curioso também ver Jango conclamando as donas de casa a fiscalizar o tabelamento de preços lançado pelo governo como medida de combate à inflação. Se pensarmos que quase vinte e cinco anos depois outro governo tentou exatamente a mesma coisa, fica clara a peculiaridade da vida política brasileira.

O livro segue uma ordem cronológica cujo ponto decisivo é, evidentemente, o golpe militar de 1964. Baseado em diversas fontes, Villa demonstra como a falta de pulso de Jango facilitou muito o trabalho dos militares. Além da sucessão impressionante de acontecimentos, os detalhes levantados por Villa chegam a surpreender. Vale citar que o último discurso feito por Jango na posição de presidente tinha sido escrito, em grande parte, por Luís Carlos Prestes.

Além disso, a falta de informação da esquerda também chama atenção: a edição de "Novos Rumos", revista do PCB, da semana entre 27 de março e 2 de abril, exatamente o momento do golpe, vinha com um suplemento que destacava "as grandes possibilidades de vitória das forças patrióticas e populares no pleito de 1965".

Indicação

Analisando cuidadosamente um período decisivo, o livro cumpre ao menos dois papéis: redimensiona um político que terminou supervalorizado por parte da esquerda e ao mesmo tempo traz luz à compreensão das forças políticas que disputam a condução do Brasil até hoje.

Jango: Um perfil (1945-1964)

Marco Antonio Villa

Editora Globo

288 - Páginas

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