O Homem que Sabia Demais

Retrato de um dos pais da computação

Oscar D'Ambrosio

O nome do matemático britânico Alan Turing (1912-1954) está geralmente associado ao teste que leva o seu nome, que consiste numa forma original de responder uma pergunta que estava em voga desde a criação dos computadores: as máquinas podem pensar?

Turing estabeleceu o seguinte paradigma: uma pessoa ficava numa sala no controle de um teclado e de uma impressora ligada a um outro equipamento idêntico operado por outro ser humano e também conectado ao computador em teste. Cabia ao primeiro homem fazer perguntas aleatórias ao outro homem ou à máquina. Se ele não conseguisse perceber diferenças nas respostas, a máquina podia ser considerada inteligente.

"O Homem que Sabia Demais: Alan Turing e a Invenção do Computador", de David Leavitt, conta exatamente a vida e a trajetória de Turing. Narra como ele, filho de um oficial britânico, divertia-se, ainda jovem, desenhando bicicletas anfíbias.

Turing começou a estudar a Teoria da Relatividade de Einstein em 1928 e buscava formas de resolver problemas com a mecânica quântica. Recebeu, em 1936, o conceituado Smith's Prize ao realizar um importante trabalho sobre a Teoria das Probabilidades.

Dedicou-se, em seguida, à computação, com o objetivo de pesquisar efetivamente o que ela poderia fazer e até onde poderia chegar. Criou, assim, uma máquina conhecida como Turing Universal Machine, que, a partir de instruções apropriadas, possibilitava calcular qualquer número e função matemática.

Sua fama maior, porém, veio com a Segunda Guerra Mundial. Quando ela começou, em 1939, Turing foi trabalhar no Departamento de Comunicações da Grã-Bretanha, em Buckinghamshire. O intuito era quebrar o código das comunicações alemãs, produzido por um computador chamado Enigma.

Constantemente trocado, ele obrigava os Aliados a continuamente tentar decifrá-lo, numa corrida insana contra o relógio. Turing e uma equipe de cientistas obtiveram sucesso desenvolvendo um sistema chamado Colossus, considerado um precursor dos computadores digitais.

Códigos seguros

Ainda durante a guerra, Turing foi enviado pelos ingleses aos EUA para estabelecer códigos seguros para comunicações transatlânticas entre os Aliados. Teve assim a oportunidade de participar do projeto do ENIAC (Electrical Numerical Integrator and Calculator), primeiro computador digital eletrônico de grande escala, criado em fevereiro de 1946. Terminada a guerra, Turing se juntou ao National Physical Laboratory para desenvolver um computador totalmente inglês que seria chamado de ACE (Automatic Computing Engine).

O livro ressalta não só os sucessos da inteligência de Turing, mas também as desventuras que o levaram ao suicídio. Homossexual numa Inglaterra conservadora, em 1952, foi preso por "indecência" e prática de "vícios impróprios". Humilhado, foi obrigado a se submeter à psicoanálise e tratamentos hormonais que poderiam "curá-lo" à base de estrogênio, viu seus seios crescer e mergulhou em profunda depressão.

O resultado não poderia ser outro: suicídio ao comer uma maçã envenenada com cianureto de potássio. O fato dessa fruta mordida ser o símbolo da Apple é vista como uma homenagem a Turing, embora a empresa não confirme essa versão, dizendo que se trata apenas de uma homenagem a Newton.

Escrito por David Leavitt, professor de redação criativa na Universidade da Flórida, EUA, o livro consegue traçar o panorama de um dos homens mais geniais da primeira metade do século 20, infelizmente castrado por uma sociedade que não conseguia conviver com pessoas diferentes sem eliminá-las.
 

O Homem que Sabia Demais: Alan Turing e a Invenção do Computador

David Leavitt

Editora Novo Conceito

224 páginas
 

Fonte: jornalista e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA- Seção Brasil).

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