Pensamento científico
Um convite à reflexão sobre a ciência e a filosofia Sueli Salles
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Há décadas as editoras produzem livros didáticos cada vez mais atrativos, baseados em diferentes concepções de aprendizagem, com recursos gráficos e tecnológicos, tudo para atrair o interesse do aluno e tornar mais ameno o trabalho do professor em sala de aula. O problema é que, muitas vezes, o próprio professor perde a visão global daquilo que é ensinado e passa a ocupar-se com a reprodução de conteúdos, preocupado em cumprir programas. Diante desse quadro, o livro Pensamento científico – a natureza da ciência no ensino fundamental, da série Como eu ensino (Nélio Bizzo, editora Melhoramentos, 2012), é uma agradável surpresa.
Destinado ao professor, o livro na verdade é um convite à reflexão sobre as origens e o desenvolvimento da ciência. Ligando estudos de diferentes áreas, a obra possibilita ao leitor uma visão global sobre as influências da ciência na construção do percurso social e no modo como vivemos hoje: “De certa forma, somos tributários das profundas mudanças que nossos antepassados conseguiram empreender sobre a maneira antiga de ver o mundo” (p.153).
Ele não se destina ao aluno, como dissemos, não traz resumos, não tem exercícios e o professor não vai poder explorá-lo em pinceladas entre intervalos de aula. A proposta não é essa. A linguagem não é banal e o formato é desafiador (composto por capítulos longos, com muitas referências teóricas). Mas quem aceitar esse desafio terá bons motivos para seguir a leitura até o fim, como a possibilidade de perceber não como o autor ensina e sim como ele pensa a ciência.
A introdução já é um passeio pela história da filosofia ocidental, tecendo relações entre as diversas áreas do conhecimento humano. A ampla parte destinada aos estudos da “relação/proporção áurea”, em especial, é bastante curiosa. A resposta à pergunta “O que é ciência?” é desenvolvida em três capítulos , em uma abordagem interdisciplinar, envolvendo Ciência, História e Filosofia. Assim, antes de entrar no capítulo 4, o leitor-professor já terá refletido sobre a mudança cultural que a ciência moderna trouxe para a humanidade: “Ao discutir Aristóteles, Galileu e Darwin, pretende-se que o próprio professor formule sua concepção epistemológica sobre a ciência” (p.156).
No capítulo 4, o autor propõe uma ampla reflexão sobre o ensinar ciências e faz boas indicações de sites (todos com comentários), mas deixa a desejar quem espera pela exposição do “como eu ensino”, que dá nome à coleção. O livro – muito distante dos temas e linguagens explorados nas aulas do ensino fundamental da maioria das escolas brasileiras – não é um manual didático, mas isso não é problema, afinal já há tantos no mercado...
Pensamento científico: a natureza da ciência no ensino fundamental
Nélio Bizzo
São Paulo – Melhoramentos - 2012 (Coleção Como eu ensino)
175 p.