Texto e gramática

Releitura de quais teorias mesmo?

Sueli Salles
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

A obra de Antônio Suárez Abreu, que integra a coleção “Como eu ensino” (Texto e gramática: uma visão integrada e funcional para a leitura e a escrita, Melhoramentos, 2012), propõe-se, em seus 32 capítulos, a oferecer sugestões aos docentes de como abordar questões gramaticais na construção de textos. Isso é feito de modo sistemático, com proposições de atividades ao final dos capítulos, mas o projeto, por algumas razões, deixa a desejar.

A primeira causa de incômodo é a delimitação do leitor: a que professor o livro se destina? Se a coleção tem a educação básica como foco, pressupõe-se que o livro seja destinado ao professor da educação básica e que apresente conteúdos e exercícios úteis ao seu trabalho didático, porém não é o que acontece, já que as abordagens teóricas estão muito mais próximas do ambiente universitário.

A proposição de atividades abertas (sem as respostas esperadas) é outro problema. A apresentação de sugestões de respostas para os exercícios é algo essencial para o professor certificar-se de ter entendido a atividade criada por outro profissional, com outro ponto de vista. Não se trata de passar gabarito, mas de ajudar o educador a refletir sobre possíveis problemas de interpretação do exercício a fim de não assumir posturas autoritárias diante das divergências.

Se considerarmos a necessidade de desenvolver em sala um ensino crítico, que busque a adequação comunicativa e não a imposição de normas, o trato dado a alguns casos polêmicos da língua também merece uma crítica. Na página 36, ao referir-se ao emprego de “o mesmo” para substituir pronome ou substantivo, o autor afirma que o uso é condenável, sem explicar a razão disso, limitando-se a citar, como argumento de autoridade, que o Manual de redação e estilo do jornal O Estado de S.Paulo também indica isso.

O ponto mais grave, porém, está na ausência de referências bibliográficas. O leitor fica sem saber em quais teorias ou teóricos o autor se baseia para dizer o que diz. A abordagem teórica precisaria ter suas fontes indicadas, tanto para permitir ao leitor o aprofundamento da pesquisa quanto para garantir a veracidade dos dados e respeitar a autoria das informações.

Apesar de todos esses deslizes, a obra é rica e digna de leitura, tanto pelo bom apanhado de estudos linguístico (com destaque para os que privilegiam a função argumentativa da comunicação) quanto pelas boas sugestões para associar teoria e prática. A conferir.

Texto e gramática: uma visão integrada  e funcional para a leitura e a escrita

Antônio Suárez Abreu

São Paulo – Melhoramentos - 2012 (Coleçnao Como eu ensino)

287 p.

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