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Antero de Quental Poeta e pensador português

18/04/1842, Ponta Delgada, Açores (Portugal)

11/09/1891, Ponta Delgada, Açores (Portugal)

Da Página 3 Pedagogia e Comunicação

24/10/2005 15h30

Apesar de não ter deixado uma obra extensa, Antero Tarquíneo de Quental é considerado um dos principais poetas portugueses modernos. Aluno brilhante na Universidade de Coimbra, em Portugal, formou-se em direito, em 1864. Dois anos depois tentaria se alistar no exército do nacionalista Giuseppe Garibaldi, o revolucionário que havia unificado a Itália em 1861.

Ilhéu, isto é, nascido numa ilha que era colônia portuguesa, viajou pela França, pelos Estados Unidos e pelo Canadá, fixando-se em Lisboa, onde trabalhou por algum tempo organizando o Partido Socialista. Amigo de Eça de Queirós e Oliveira Martins, pertenceu à chamada Geração de 70, grupo ligado à Questão Coimbrã e que pretendia renovar a mentalidade em Portugal.

A Questão Coimbrã foi uma polêmica literária travada, em 1865, entre o círculo de poetas ligados a António Feliciano de Castilho e o grupo de jovens coimbrãos (isto é, ligados à Universidade de Coimbra) que manifestaram publicamente o seu interesse pela reforma da vida em Portugal. que veio, mais tarde, a ser conhecido como Geração de 70, da qual Antero de Quental foi considerado mentor. Com os poemas "Odes Modernas" e o ensaio "Bom Senso e Bom Gosto", ambos desse e ano, o poeta e pensador liderou a ruptura cultural com os valores do passado - representados, na Questão, pelo poeta Castilho.

As suas obras vão da poesia à reflexão filosófica. Defendia a missão social da poesia como oposição ao lirismo ultra-romântico em voga na época. Sua poesia pode ser considerada uma procura filosófica pela verdade através da própria experiência. Os intelectuais do seu tempo o definiam como um homem de grande estatura moral e espiritual.

São também desse período do Grupo dos 70 as suas manifestações de entusiasmo pelos movimentos sociais europeus, e a leitura dos grandes teóricos do socialismo e dos filósofos contemporâneos, em especial Proudhon e Hegel, que influenciaram bastante o seu pensamento.

Produziu ainda "Raios de Extinta Luz", "Primaveras Românticas", "Sonetos", "Prosas" e "Cartas". Ainda em vida, teve seus sonetos traduzidos para o alemão.

Numa carta ao amigo Cândido de Figueiredo, datada de 3 de maio de 1881, dez anos antes da sua morte, se disse oriundo de uma família com antecedentes literários, de que destacava o Padre Bartolomeu de Quental "cujos sermões ainda hoje podem ser lidos com alguma utilidade" e o seu avô, André Ponte de Quental, "poeta nada vulgar" e amigo íntimo de Bocage.

Colaborou na criação de associações operárias, e ao mesmo tempo se dedicou a divulgar ideais revolucionários, escrevendo panfletos e artigos sobre assuntos sociais e literários para o "Jornal do Comércio" e o "Diário Popular", de Lisboa, e para "O Primeiro de Janeiro", do Porto. Fez parte das redações dos periódicos "A República" e "Pensamento Social".

Fundou, em 1872, a Associação Fraternidade Operária, representante em Portugal da 1ª Internacional Operária.

Sofria de uma doença mental, identificada por alguns como psicose maníaco-depressiva, hoje chamada de transtorno bipolar, pela moderna psiquiatria. Em função desse distúrbio, caracterizado por períodos de delírio alternados com profunda depressão, torna-se quase inválido, o que faz diminuir seu ativismo político em prol de um nacionalismo ibérico e do socialismo.

Seu último ensaio filosófico, "A Filosofia da Natureza dos Naturalistas", foi publicado em 1884, na Revista de Portugal, editada por Eça de Queirós.

Em 5 de junho de 1891, adoentado, provavelmente deprimido, regressou para Ponta Delgada, sua cidade natal no arquipélago dos Açores - e não chegou a se recuperar, cometendo suicídio três meses depois.