Apolônio de Carvalho Ativista político brasileiro
9/02/1912, Corumbá (MS)
23/09/2005, Rio de Janeiro (RJ)
Por suas idéias de esquerda, Apolônio de Carvalho passou parte de sua vida no exílio e foi transformado em personagem por Jorge Amado, é o Apolinário, da obra "Subterrâneos da liberdade". O escritor baiano chamava o ativista de "herói de três pátrias". O motivo? Apolônio participou da revolta (Intentona) comunista de 1935, da Guerra Civil espanhola, da Resistência Francesa contra os nazistas e da guerrilha contra o regime militar brasileiro (1964-1985).
Sonhava ser médico, desde menino. Mas, ao partir para o Rio de Janeiro para estudar, a mãe lhe disse: "Se você for militar, como seu pai, vai poder ajudar a família". Assim, ingressou na Escola Militar de Realengo e tornou-se tenente do Exército, em 1933.
Foi servir em Bagé, no Rio Grande do Sul, e entrou, em 1935, para a Aliança Nacional Libertadora (ANL), que reunia democratas, socialistas e comunistas contra os avanços da extrema-direita. Em junho de 1935 a ANL foi declarada ilegal, Apolônio foi preso pela primeira vez e perdeu a patente de tenente. Durante a prisão, foi transferido para a Casa de Correção, no Rio de Janeiro. Ali conheceu Olga Benário, Luiz Carlos Prestes e o escritor Graciliano Ramos, que descreveu o drama daquelas centenas de presos políticos em "Memórias do Cárcere".
Segundo Apolônio, foi nessa ocasião que tomou conhecimento da existência do Partido Comunista Brasileiro (PCB), ao qual se filiou ao ser solto, em 1937. Viajou para a Espanha, a fim de se engajar nas Brigadas Internacionais que lutavam contra o ditador Francisco Franco na Guerra Civil (1936-1939).
As brigadas foram derrotadas - em parte pelo desentendimento entre os vários grupos comunistas e sociais-democratas - e ele confinado, na França, num "campo de internamento", com outros combatentes. No ano seguinte, o país foi invadido e ocupado pela Alemanha nazista, em 1942. Apolônio escapou do campo, filiou-se ao Partido Comunista francês e entrou para o movimento da Resistência. Foi quando que conheceu a mulher, Renée, ativista comunista, com quem viveu até o fim.
Voltou ao Brasil no final de 1946, com Reneé, e o primeiro filho. Nessa época, o PCB voltara a ser legal. Presidiu a União da Juventude Comunista (UJC), que tinha como secretário-geral João Saldanha, depois jornalista e técnico da Seleção Brasileira. Um ano depois, o PCB foi posto na ilegalidade e a UJC, dissolvida. Novamente, Apolônio mergulhou na clandestinidade.
Apolônio e Reneé viveram na União Soviética, de 1954 a 1957, mesma época em que foram denunciados os crimes de Stálin, o ditador russo: foi quando o militante conseguiu superar o que chamava de "visão ilusória e fantasiosa do socialismo". Ao retornar ao Brasil, mesmo crítico do PC, Apolônio passou a escrever na revista do partido, "Novos Rumos", e participou da sua comissão de Educação, dando cursos de formação.
Com o golpe militar de 1964, ele defendeu a luta armada e fundou o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Enfrentando a ditadura, foi preso e torturado, em 1969. Um ano depois, um comando guerrilheiro seqüestrou o embaixador alemão e, para libertá-lo, exigiu a soltura de 39 presos, Apolônio entre eles.
Exilado, foi para a Argélia, e depois para a França, onde viveu até a anistia política, em 1979. De volta ao Brasil, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores. No entanto, devido a seu descontentamento com os rumos do governo Lula, sua família não permitiu que a bandeira do PT fosse colocada sobre seu caixão, quando morreu.
Por serviços prestados na Resistência, foi condecorado com a Legião de Honra pelo governo da França. Pela luta na Espanha, recebeu a cidadania espanhola, nos anos 1990. Nessa mesma década, por recomendação médica, Apolônio afastou-se da militância política intensa. Conhecido pelo otimismo, a fala mansa e a polidez, dedicou-se a escrever seu livro de memórias, "Vale a pena sonhar".