Machado de Assis Escritor brasileiro
21/6/1839, Rio de Janeiro (RJ)
29/9/1908, Rio de Janeiro (RJ)
"Traziam não sei que fluido misterioso e energético, uma força que arrasta para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros: mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me." Foi assim, dialogando ou, quem sabe, flertando com o leitor, o que se tornaria uma marca dos romances do escritor, que Machado de Assis construiu essa bela passagem, na qual Bentinho, mordido pelo ciúmes e pela dúvida, enxerga nos olhos de cigana oblíqua e dissimulada de Capitu a confissão de culpa no livro Dom Casmurro, a obra mais perturbadora até hoje escrita em língua portuguesa e que, no plano universal, pela excelência do romance, encerrava magistralmente o século. Foi com a força de uma linguagem sempre original e capaz de desvendar a condição humana que o escritor construiu, assim como Capitu, personagens marcantes na literatura. Filho de um mulato com uma lavadeira portuguesa, Machado passou a infância no Morro do Livramento (RJ). Iniciou a vida profissional como tipógrafo. Passou a escrever para jornais e revistas crônicas, contos e romances, que saíam em folhetins e depois eram publicados em livros. Pouco depois, foi nomeado primeiro-oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, iniciando sua carreira burocrática, que lhe seria o meio principal de sobrevivência. Em 1896, fundou com outros escritores a Academia Brasileira de Letras e tornou-se o seu primeiro presidente. Sua obra é classificada em duas fases. A primeira compreende poesias românticas, indianistas e parnasianismo, como Crisálidas (1864) e Americanas (1875) e ficção romântica: Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874) e Iaiá Garcia (1878). A segunda, inaugurada por Memórias Póstumas de Brás Cubas (1880), é marcada pela ironia, amargura, reflexão profunda em torno do trágico da condição humana. Em se tratando de seus contos e romances são considerados obras primas Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899) e Memorial de Aires (1908) entre outros.