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Ideias transformadoras

Lucila Cano

17/05/2013 06h00

No palco que recria o ambiente de um circo, uma garota sonha em ser trapezista. A fantasia cede lugar ao pesadelo, assim que ela é enganada pelo mágico Zoran. Ele a transforma em Linda Rosa e passa a explorá-la. Mas, graças ao caminhoneiro Justiniano, mais conhecido como Justo, que liga para o Disque 100 e denuncia a violência, a menina é salva do abuso.

Este é o enredo do musical “A Linda Rosa”, escrito por Josemir Medeiros, com apresentações previstas para 57 cidades de 21 Estados até o início de dezembro deste ano. A peça faz parte da programação da Caravana Siga Bem, patrocinada pela Petrobras, Volvo e Grupo CCR.

Já na cidade de São Paulo, entre os dias 23 e 25 de maio, na esquina da rua da Consolação com a avenida Paulista e na passagem subterrânea que liga uma calçada a outra da Consolação, o projeto “Catando Estórias” desenvolverá atividades de estímulo à leitura: confecção de capas de livros com materiais reciclados, catação de estórias dos transeuntes, exposição de capas de livros de papelão e sarau literário.

O projeto tem o apoio da Secretaria Municipal da Cultura, organização da MUDA Práticas e participação do Coletivo Dulcinéia Catadora, criado pela artista plástica Lúcia Rosa e integrado por artistas e escritores.

O que dois projetos tão distintos têm em comum? Criatividade e valorização da cidadania.

Siga bem criança

Todo ano, desde que foi criada, a Caravana Siga Bem leva peças itinerantes para caminhoneiros, profissionais de transportadoras e comunidades próximas das rodovias do país. O que diferencia “A Linda Rosa” de atrações anteriores é que esta é a primeira vez que a equipe da caravana encena um texto sobre o combate à exploração sexual de crianças e adolescentes.

A edição 2013 da caravana comemora 10 anos do projeto Siga Bem Criança, que envolve caminhoneiros do Brasil no combate à exploração e violência contra a criança e o adolescente, a partir da divulgação do Disque 100 para denúncias de maus tratos.

Em 2007, o material de divulgação da caravana informava: “Em 2004, o Disque 100 recebia 12 denúncias sobre exploração de crianças por dia. Hoje, são mais de 50!”. Desde então, a caravana conquistou o apoio da Polícia Militar Rodoviária, para combater os pontos de prostituição nas estradas, e, ao longo do tempo, abrangeu novos projetos.

Data de 2007 também o projeto Siga Bem Mulher de conscientização dos caminhoneiros sobre a questão da violência doméstica. Desde então, o projeto divulga o Disque 180 para denúncias de agressão contra as mulheres.

Catando estórias

No caso do projeto “Catando Estórias”, o livro ganha um fascínio especial por causa do Coletivo Dulcinéia Catadora. O coletivo, que não é uma ONG, segundo Lúcia Rosa, mas um “coletivo de arte que faz intervenções urbanas”, atua há mais de seis anos com catadores de recicláveis, ligando-os à arte e à leitura.

Uma das atividades reúne o público e catadores em oficinas nas quais são confeccionados livretos a partir de contos e poemas, cujos direitos são cedidos por escritores contemporâneos.

O material produzido durante as oficinas do projeto em São Paulo não será vendido, mas doado à cooperativa de catadores Cooperglicerio.

Esse trabalho de confecção artesanal de livros tem um impacto social admirável. A quem possa interessar, sugiro assistir ao vídeo “Soluções Providenciais”, que registra ação do coletivo com crianças do Morro da Providência, no Rio de Janeiro, acessível no www.dulcineiacatadora.com.br.

Esse vídeo integrou a exposição “O Abrigo e o Terreno” do Projeto Arte e Sociedade no Brasil em mostra inaugural do Museu de Arte do Rio. Em pouco mais de cinco minutos, crianças e adolescentes falam do prazer de fazer um livro, escrever, fotografar, trabalhar em grupo e mais: definem assuntos que poderiam virar livro, como retratar a comunidade onde vivem e outros lugares fora dela. Eles querem ir à praia, passear de bondinho, conhecer coisas novas e outras pessoas. Querem crescer.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.