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Arte nipo-brasileira (1) - Grupo Seibi, Manabu Mabe e Tomie Ohtake

Escultura de Tomie Ohtake instalada em 1988 na Avenida 23 de Maio, em São Paulo, para comemorar os 80 anos da imigração japonesa. São quatro lâminas de concreto, em forma de ondas, que simbolizam as gerações que se sucederam no Brasil desde o início da imigração. - UOL
Escultura de Tomie Ohtake instalada em 1988 na Avenida 23 de Maio, em São Paulo, para comemorar os 80 anos da imigração japonesa. São quatro lâminas de concreto, em forma de ondas, que simbolizam as gerações que se sucederam no Brasil desde o início da imigração. Imagem: UOL

Valéria Peixoto de Alencar*, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Em 2008, quando se comemora o centenário da imigração japonesa ao Brasil, é fácil os associarmos os imigrantes a imagens de lavradores, operários e comerciantes.

No entanto, dificilmente nos lembramos dos artistas que deixaram sua terra natal e escolheram o Brasil para produzir sua arte. Ou ainda dos que vieram crianças, com suas famílias, trabalharam nas fazendas e indústrias e, mais tarde, tornaram-se importantes artistas nacionais.

Assim como o grupo Santa Helena, que reunia artistas imigrantes italianos, os japoneses fundaram, em 1935, o grupo Seibi, com a finalidade de criar um espaço de discussão que promovesse o aprimoramento técnico e a divulgação de suas obras de arte.

Os membros do Seibi assistiam às aulas de desenho de modelo vivo da Escola Paulista de Belas Artes. Ali, travaram contato com o Grupo Santa Helena, descobrindo que havia afinidade entre suas propostas e idéias. O grupo realizou sua primeira e única exposição dessa fase no Clube Japonês, em 1938.

Com a entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial, ao lado dos países aliados, as atividades da colônia japonesa no país foram limitadas. Imigrantes italianos, alemães e japoneses eram perseguidos, o que impediu a reunião dos artistas, provocando a dispersão do grupo.

Em 1947, dois anos depois de a guerra ter chegado ao fim, o Seibi reiniciou suas atividades, criando um ateliê coletivo com a participação de novos artistas. Em 1952, criaram o Salão do Grupo Seibi e, entre 1952 e 1970, realizaram 14 mostras, responsáveis por ampliar o espaço de projeção dos artistas nipo-brasileiros no meio artístico nacional.

O grupo realizou suas atividades até a década de 1970. Dois de seus integrantes se destacaram no cenário artístico nacional:

Manabu Mabe (Kumamoto, 1924 - São Paulo SP, 1997)

Pintor e gravador, considerado o pioneiro do abstracionismo no Brasil, Manabu Mabe chegou ao Brasil, junto com sua família, em 1934, para trabalhar na lavoura de café, no interior do Estado de São Paulo.

Durante sua infância, aprendeu a pintar sozinho num ateliê que improvisou no cafezal. O pintor e fotógrafo Teisuke Kumasaka pode ser considerado seu primeiro mestre. Foi ele, na cidade de Lins, que ensinou Manabu Mabe a preparar a tela e diluir as tintas.

Sua produção inicial dialoga com o cubismo e, gradualmente, vai aderindo à abstração. Em 1955, pinta sua primeira obra abstrata: Vibração-momentânea.

A obra com que se abre este artigo, Grito, recebeu o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, em 1959. Mabe mescla a caligrafia japonesa com manchas, e é como se conseguíssemos perceber o movimento dos gestos do artista ao realizar a pintura. Por isso, esse estilo também recebe o nome de pintura gestual.

Tomie Ohtake (Kyoto, 1913)

Pintora, gravadora e escultora, veio para o Brasil em 1936 e fixou residência em São Paulo.

Iniciou suas atividades como pintora no início da década de 1950 e passou a integrar o Grupo Seibi em 1954. Sua produção inicial é figurativa, mas logo passa a optar pelo abstracionismo.

Segundo palavras da própria artista, a influência da pintura oriental, sobretudo a japonesa, "se verifica na procura da síntese: poucos elementos devem dizer muita coisa". Ela também declara fazer uma pintura silenciosa, como a cidade em que nasceu. Em suas obras, revela um intenso diálogo entre a tradição e a contemporaneidade.

Como escultora, segue a mesma tendência e propõe intervenções em espaços urbanos, produzindo esculturas de grandes dimensões, como o monumento que abre este texto.