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Análise morfossintática - adjetivo - Natureza morfológica e sintática

Jorge Viana de Moraes, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Para começo de conversa, conforme afirma Inez Sautchuk, não se pode separar o conhecimento morfológico do sintático. Pois, segundo este entendimento, "o primeiro propicia muito mais segurança na determinação das funções sintáticas dos termos da oração: a base ou a natureza morfológica de um sintagma (constituinte imediato das orações) determina ou autoriza sua função sintática". Ademais, existe um princípio linguístico universal que afirma: "nada na língua funciona sozinho".

Por isso, é de fundamental importância reconhecermos a natureza morfológica das palavras, para entendermos quais funções sintáticas elas poderão assumir numa frase. Ilustrando tais afirmações, observemos o seguinte enunciado e nele verificaremos se há adjetivos, indicando-os:

  • A lua brilhava intensamente naquela noite fria de inverno.

    Se quiséssemos descobrir quantos adjetivos encontram-se neste enunciado, deveríamos proceder morfossintaticamente da seguinte maneira:

    1º) Na língua portuguesa, as palavras pertencentes à classe do adjetivo são variáveis em gênero e/ ou número;

    2º) Deixam-se articular (ou modificar) por outras que sejam advérbios;

    3º) Apenas as palavras que são adjetivos aceitam o sufixo "-mente", dando origem, dessa forma, a um advérbio nominal.

    Embora pareça um sistema complexo, vejamos na prática seu funcionamento.

    Pelo critério mórfico, somente a palavra "fria", do enunciado acima, aceitaria o sufixo "-mente", formando um advérbio nominal. Além, é claro, do já expresso advérbio nominal "intensamente". Se atentarmos para formação desse advérbio, veremos que, primitivamente, ele é um adjetivo: intenso. Isso só reforça e ilustra, ainda mais, o terceiro item de nossa explicação, que afirma ser o adjetivo a única palavra que aceita o sufixo "-mente", formando, assim, um advérbio nominal.

    Da mesma forma, apenas as palavras "fria" e "intensamente" deixam-se articular (ou modificar) por outras que sejam advérbios intensificadores, como, por exemplo, "tão", "muito" e "bem", dependendo do contexto.


    Alguns poderão se perguntar: mas se tanto o advérbio quanto o adjetivo deixam-se articular por "tão", "muito" ou "bem", como poderei estabelecer um critério rigoroso para encontrar acertadamente o adjetivo, sem confundi-lo com o advérbio? Simples. Acionamos aqui o primeiro item de nossa explicação: as palavras pertencentes à classe do adjetivo são variáveis em gênero e número. Aplicando-o ao exemplo:
  • A lua brilhava *intensamentes naquelas noites frias de inverno.

    Como podemos observar, jamais um falante de nossa língua falaria assim: "intensamentes". Pela simples e única razão de ser o advérbio palavra invariável na língua portuguesa. Por isso a colocamos precedida por um asterisco, pois ela representa uma construção não autorizada pela gramática constitutiva, internalizada, da língua e, portanto, considerada "agramatical".

    Ao passo que "frias" soa bem aos ouvidos dos falantes, pelo fato de ser uma construção normal, autorizada pela gramática constitutiva da língua portuguesa. Sendo assim, observa-se que "frias" é variável em gênero e/ ou número, justamente a característica fundamental que a diferencia do advérbio. Enfim, de acordo com todos estes critérios, somente a palavra "fria", do enunciado que nos serve como exemplo, é um adjetivo.

    Recapitulando, teríamos então: será adjetivo toda palavra que é variável em gênero e/ ou número, e que se deixar anteceder por "tão", "muito" ou "bem", a depender do contexto.

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