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Romantismo no Brasil (5) - Folhetins para entreter classe média

Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

Em 1843, foi lançado "O Filho do Pescador", de Teixeira e Sousa, que alguns estudiosos chegaram a apontar como o primeiro romance brasileiro. Uma análise mais rigorosa, porém, coloca o texto mais perto do folhetim, do que do romance propriamente dito.

Em "O Filho do Pescador", personagens esquemáticas e sem substância seguem por uma imensa trilha de peripécias e crimes, à moda dos folhetins de mestres franceses como Alexandre Dumas ou Eugene Sue, ou ainda o autor do "Rocambole". Em reconhecimento a Teixeira e Sousa, entretanto, registre-se sua persistência no trabalho de romancista, que desenvolveu até a década de 1860.

De qualquer modo, pelo caráter folhetinesco da obra em que se encontra, a heroína de "O Filho do Pescador", loura e de olhos azuis, cede o lugar pioneiro na história de nosso romance à morena Carolina, criada por Macedo, em "A Moreninha", de 1844, sobre o qual vale a pena concentrar agora nossa atenção.



A "Moreninha"

Manuel Joaquim de Macedo escreve pensando no gosto do leitor, procurando oferecer-lhe aquilo que ele quer ler, da mesma forma como fazem atualmente os autores dos livros que chamamos best-sellers. Macedo não tem a preocupação de promover o questionamento e a reflexão no leitor. São os assuntos que interessam às classes alta e média cultas e semi-cultas da capital e das províncias brasileiras que estão nos seus romances, já a partir do primeiro deles. Isto foi a garantia de seu rápido sucesso.

Em poucas palavras, podemos falar de um "romance de entretenimento" cuja função é divertir e fazer sonhar, permitindo ao leitor identificar nos livros não somente um modo de vida semelhante ao dele, mas ainda este mesmo modo de vida pintado com as cores da imaginação. É o que acontece em "A Moreninha", em "O Moço Loiro" e em mais de uma dezena de romances posteriores. A tal ponto que os estudiosos da nossa literatura, ao se referirem à obra de Macedo, chegarem a falar que o escritor descobriu uma "receita" ou uma "fórmula" dos romances que agradavam ao público brasileiro.

Entre os ingredientes desta fórmula estão namoros difíceis de começar, paixões impossíveis, personagens misteriosos cuja identidade só se revela no final do romance, conflitos morais entre o dever e a paixão, personagens secundários com tiques engraçados, gozações e brincadeiras de estudantes despreocupados, além de situações equívocas e cômicas. Enfim, suas tramas se desenvolvem a partir de namoros e casamentos e são recheadas de mistérios, desencontros, fofocas, tal qual se encontram ainda hoje em livros e telenovelas.

Mas isto não quer dizer que quem leu um dos romances de Macedo já leu todos os outros. A receita geral, em cada livro, apresenta aspectos particulares: em "A Moreninha" é um juramento de amor feito no passado que gera o conflito que pode impedir a união de Carolina e Augusto, os apaixonados protagonistas do romance, cujo final tem uma grande reviravolta. Em "O Moço Loiro", a paixão entre Lauro e Honorina é tumultuada pela ocorrência de furto que gera uma acusação injusta, e o romance ganha características de uma história policial.



Um retrato fiel do passado

As obras de Joaquim Manuel de Macedo, independentemente de fórmulas, apresentam o universo das atenções e preocupações das classes alta e média da Corte brasileira em meados do século 19, com a fidelidade de um cronista que observa atentamente os costumes. Preocupado em fixar em seus escritos o modo de vida e os costumes da antiga capital da nação brasileira, criou uma obra que tem grande como documentário: nela vamos encontrar o cotidiano fluminense do Segundo Império, em seus mínimos detalhes, um retrato preciso desta época de nossa História.

A linguagem de Macedo é simples, próxima do coloquial, o que torna narração e os diálogos, além de acessíveis ao público leitor, cheios de leveza e vivacidade, adequando-se com perfeição ao tipo de romance que ele se propôs fazer. Iniciador do romance brasileiro, Joaquim Manuel de Macedo foi primeiro escritor a se dedicar a tipo de obra. Foi ele quem adaptou às características de nosso país e de nossa história o romance, surgido na Europa. É basicamente isso que o torna um marco na história da literatura brasileira.

Em 1843 foi publicado "O Filho do Pescador", de Teixeira e Sousa, que alguns estudiosos chegaram a apontar como o primeiro romance brasileiro. Uma análise mais rigorosa, porém, coloca o texto mais perto do folhetim, do que do romance propriamente dito.

Em "O Filho do Pescador", personagens esquemáticas e sem substância seguem por uma imensa trilha de peripécias e crimes, à moda dos folhetins de mestres franceses como Alexandre Dumas ou Eugene Sue, ou ainda o autor do "Rocambole". Em reconhecimento a Teixeira e Sousa, entretanto, registre-se sua persistência no trabalho de romancista, que desenvolveu até a década de 1860.

De qualquer modo, pelo caráter folhetinesco da obra em que se encontra, a heroína de "O Filho do Pescador", loura e de olhos azuis, cede o lugar pioneiro na história de nosso romance à morena Carolina, criada por Macedo, em "A Moreninha", de 1844.

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