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Pai passa em medicina ao fazer Enem para apoiar filho na Bahia

Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

10/02/2016 19h33

O fisioterapeuta Ulisses Monteiro da Costa Neto, 42, foi aprovado em medicina na Uesb (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), campus Jequié (BA), depois de uma maratona de estudos para apoiar o filho Alirio Caribé Ribeiro Neto, 19, no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que tentava ingressar no mesmo curso em universidade pública. O jovem foi aprovado em uma faculdade particular em Salvador e promete, mesmo estudando em instituições diferentes, trocar conhecimento com o pai durante a vida acadêmica.

Há três anos, pai e filho começaram a estudar juntos. Mas, o que a família não imaginava era que Ulisses tivesse potencial para ser aprovado e voltar a fazer universidade quase duas décadas depois de se formar em fisioterapia. A lista dos aprovados do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) foi divulgada no dia 18 de janeiro, mas Ulisses conta que até agora a "ficha não caiu".

“Comemoramos o resultado de Alírio com uma festinha para amigos e familiares, mas a minha não fizemos. Até agora estou sem acreditar que passei em medicina. Reforço que o resultado não foi sorte, foi estudo mesmo. Estudei não só o conteúdo, mas também fiz uma estratégica com análise dos assuntos que caíram nas últimas provas e cronometrei as questões e a redação. Deu certo e agora vou tentar fazer meu filho ser aprovado no Enem deste ano para cursar medicina em universidade pública”, afirma Ulisses. 

Ele não fez cursinho, estudou em casa, nos horários vagos que tinha como fisioterapeuta e aluno do curso de bacharelado interdisciplinar em Saúde, na UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), que ingressou em 2015. “Aproveitei a greve e comecei a estudar. Meu foco era sempre em linguagens e ciências da natureza, que não dominava, além da redação. Apesar de Alírio estar em Salvador, porque ele foi fazer cursinho lá, a gente se comunica o tempo todo por Skype e outras mídias trocando conteúdo. Um ajudava o outro”, afirma.

Ulisses Monteiro obteve a média 785 e vai cursar medicina apenas em outubro, quando inicia o primeiro semestre do curso da Uesb. O calendário acadêmico está desregulado devido à greve que iniciou em 13 de maio de 2015 e durou 86 dias. Já Alírio Ribeiro deverá começar o curso na FTC (Faculdade de Tecnologia e Ciências), em Salvador, este mês, mas continuará estudando para o Enem para tentar vaga em universidade pública em 2017.

O fisioterapeuta tem uma clínica na cidade de Gandu, sudoeste da Bahia, já está planejando como vai ser a nova rotina para conciliar estudos com a profissão. “Vamos ter uma queda na renda porque vou atuar menos na clínica, mas vou ver uma forma de ficar nos fins de semana. Minha mulher é fisioterapeuta e vai ajudar muito nesse período que estarei na universidade. Espero que Alírio consiga ser aprovado ano que vem em uma universidade pública porque a mensalidade é pesada. Mas, se não for vamos nos ajustar e ele poderá até terminar o curso primeiro do que eu, porque na faculdade particular não tem o atrapalho das greves”, disse.

Ulisses conta que quando era adolescente sonhava em ser médico, porém ao ser aprovado no curso de fisioterapia se encontrou na profissão e não tentou mais uma nova carreira. "Sou professor de física e química. Planejei ser professor do meu filho para ele ir aprendendo junto comigo essas disciplinas. Resolvi fazer o Enem há três anos para incentivá-lo e fiquei surpreso com a nota que obtive. Daí nos anos seguintes, foquei nos estudos para ser aprovado junto com ele. Não passamos na mesma universidade, como desejávamos, mas vamos ser parceiros acadêmicos porque vamos trocar conhecimento”, diz Ulisses.