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Alunos da Unicamp protestam contra carteirinha estudantil atrelada a banco

Denny Cesare/Código19/Estadão Conteúdo
Imagem: Denny Cesare/Código19/Estadão Conteúdo

Fabiana Marchezi

Colaboração para o UOL, de Campinas (SP)

01/03/2016 19h24

Um protesto contra a nova carteirinha estudantil mobilizou centenas de estudantes da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) na tarde desta terça-feira (1º). Eles pularam a catraca no Restaurante Universitário e não passaram o cartão para pagar os R$ 2 cobrados pelo almoço.

O movimento foi uma reação à inserção do logotipo do Santander/Mastercard no cartão, considerada pelos alunos uma forma de coação para a abertura de conta na instituição financeira, uma vez que o novo RA também pode ser usado como cartão de débito. Além de identificar o aluno, o documento dá acesso a serviços oferecidos pela universidade, como bibliotecas e restaurantes universitários.

“Eles pegaram os calouros de surpresa. Na confirmação da matrícula, os alunos já receberam o cartão com o logotipo. Não houve nenhum tipo de consulta à comunidade acadêmica. Mudanças assim só devem ser implementadas após debates amplos”, disse Guilherme Montenegro, coordenador do DCE.

Segundo Montenegro, a atitude da universidade de liberar o RA com o logotipo do banco facilitou o assédio e a coação dos funcionários da instituição bancária em relação aos alunos. “Eles chegam nos calouros dizendo que se eles não abrirem a conta no banco não terão direito a bolsas e intercâmbios. O que é mentira”, relatou.

Em nota, a Unicamp explicou que o estudante é livre para decidir se quer ou não abrir a conta no banco. “A função financeira do cartão só pode ser acionada por demanda pessoal do interessado, mediante solicitação que envolve tramitação interna na universidade e na instituição bancária”, ressaltou.

Segundo a universidade, o cartão já habilitado para débito -- caso o estudante concorde -- seria uma forma de facilitar a vida do estudante, uma vez que ele destina-se principalmente àqueles que enfrentam dificuldades para abrir uma conta corrente, como no caso de estudantes estrangeiros.

Para os estudantes, a atitude da universidade é mais um sinal da privatização de uma universidade pública. “O acordo entre a universidade e o banco é muito ruim, uma vez que a Unicamp é uma universidade pública, e não deveria ter nenhuma relação exclusiva com qualquer banco ou iniciativa privada. Além disso, essa decisão foi tomada completamente a portas fechadas, inclusive porque a reitoria sabe que é uma prática que a sociedade desaprova. Se hoje a gente fala tanto sobre a importância de acabar com o financiamento privado de campanha é porque a administração pública não pode se confundir com os interesses privados. Esse tipo de relação é a raiz da corrupção, inclusive”, disse Matheus Costa Cruz, estudante de midialogia.

Um outro problema apontado pelos alunos é a liberação dos dados pessoais à instituição financeira. “Eles não podem abrir os dados dos alunos sem o consentimento deles”, afirmou Montenegro. Entretanto, a universidade explicou que o contrato entre Unicamp e Santander prevê que, para a confecção dos cartões, o banco receba somente os dados acadêmicos dos alunos. “Não são recebidos dados comerciais. Todos os dados contidos no cartão são protegidos por um termo de confidencialidade”, ressaltou a universidade.

Cartão

Segundo a universidade, o cartão universitário é um dos itens previstos no convênio renovado a cada quatro anos entre a universidade e o Santander Universidades com o objetivo de viabilizar projetos acadêmicos e culturais. A última renovação ocorreu em 2014.

“A parceria prevê o financiamento de intercâmbio internacional de professores, estudantes e funcionários da Unicamp; bolsas de estudo; visitas de pesquisadores estrangeiros; e o fornecimento do cartão inteligente para a comunidade acadêmica”, explicou o comunicado. A instituição não comentou o protesto realizado pelos alunos.