Topo

"Com educação você é mais livre", diz haitiano que sonha passar em medicina

Bruna Souza Cruz/UOL
Imagem: Bruna Souza Cruz/UOL

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

16/10/2016 06h02

“Você não é nada sem educação. Educação pode transformar, é a chave. Com educação você é mais livre”. É com essa motivação que o haitiano Jean Woolmay Denson Pierre, 20, se dedica ao cursinho desde o começo do ano.

Seu objetivo é um só: fazer faculdade de medicina no Brasil.

O vestibulando conta que deixou o Haiti em 2015 em busca de uma melhor formação. Outro forte motivo foi a saudade do pai, que mora em Joinville (SC) e que ele não via há três anos. Para tentar dar uma vida melhor para a família, o pai de Pierre tinha vindo sozinho para o Brasil em 2012.

“Meu pai está mais estabilizado. Aí, mandou buscar a família. Eu vim primeiro e depois veio minha mãe e irmão”, explica. “Fiquei triste de deixar meus amigos, mas aqui eu vou poder estudar para depois voltar no Haiti e trabalhar para ajudar meu povo.”

A primeira parada de Pierre depois de deixar o Haiti foi a cidade de Joinville, onde sua família vive. Sem saber nada de português, o estudante foi se virando com a base que teve num curso de três semanas.

“Foi muito engraçado. O curso só me deu o básico do básico. Eu não entendia nada. Fui aprendendo nas ruas e agora eu falo francês, inglês, crioulo e português”, brinca.

O intensivão da língua portuguesa veio mesmo quando Pierre se mudou para São Paulo, poucos meses depois. Já determinado a entrar em um cursinho preparatório para o vestibular, o estudante deixou Joinville contra a vontade do pai.

“Falei para o meu pai que em São Paulo seria melhor para eu estudar. Sairia mais barato também. Ele achou meio ruim, me deu só o dinheiro da passagem. Só que eu peguei minhas coisas e vim para cá”, lembra.

“Ele não queria mesmo que eu viesse, mas me ajudou depois que comecei a estudar. Só em julho que ele me mandou voltar e parou de enviar dinheiro. Ele disse que se eu quisesse continuar em São Paulo, eu deveria arranjar um emprego. Desde então, é um dia de cada vez”, conta o rapaz que faz bicos de modelo.

Um estudante modelo ou um modelo estudante?

Por sorte, segundo Pierre, a profissão que exercia lá no Haiti desde os 18 anos foi útil aqui no Brasil. Graças a trabalhos de modelo para revistas de moda e marcas de roupa, o jovem tem conseguido administrar seus gastos.

Mesmo animado com os trabalhos, Pierre fez questão de dizer que o foco nessa reta final é fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e passar no vestibular.

Ele diz que se mudaria para qualquer cidade, desde que passe em medicina: “Seria bom se eu passasse em São Paulo [na USP] ou se passasse na Unila [Universidade Federal da Integração Latino-Americana]. Sei que lá tem bastante estrangeiro.”

“A vida sempre me joga para aquilo que é difícil. Mas se você quer uma coisa, você deve arriscar. Se não arriscar, você não terá nada. Sei que vai ser pesado, mas vou me esforçar”, concluiu.