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Aparício Torelly, barão de Itararé Jornalista e humorista brasileiro

9/01/1895, São Leopoldo (RS)

27/11/1971, Rio de Janeiro (RJ)

Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

26/10/2005 13h45

"De onde menos se espera, daí é que não sai nada". A frase é de Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o barão de Itararé, autor de outras máximas como "Um homem que se vende recebe sempre mais do que vale".

Gaúcho, desembarcou no Rio de Janeiro aos 30 anos de idade e foi trabalhar nos jornais "O Globo" e "A Manhã". No ano seguinte, 1926, fundou "A Manha", um jornal em formato tablóide, de circulação nacional, que foi um sucesso e iria inspirar jornalistas e humoristas, 40 anos mais tarde, a criar "O Pasquim". E logo Aparício se autoproclamaria barão de Itararé, durante a Revolução de 30, numa referência à anunciada batalha que aconteceria na cidade paulista de mesmo nome, mas que nunca ocorreu de fato.

Em 1934, fundou o Jornal do Povo. Nos dez dias em que durou, o jornal publicou em fascículos a história de João Cândido, um dos marinheiros da Revolta da Chibata, de 1910. O barão foi seqüestrado e espancado por oficiais da Marinha. Depois disso, voltou à redação do jornal e colocou uma placa na porta onde se lia: "Entre sem bater".

Militante e um dos fundadores da Aliança Nacional Libertadora, foi preso pela polícia política de Getúlio Vargas e ficou na Casa de Correção durante todo o ano de 1936. Ali conviveu com Graciliano Ramos, que descreveria o encontro dos dois na cadeia e o drama de centenas de presos políticos em "Memórias do Cárcere".

Continuaria a entrar e sair da prisão quando Getúlio se tornou ditador, durante o período chamado Estado Novo (1937-1945). Nessa ocasião, o barão já se casara pela terceira vez - e logo ficaria viúvo.

Durante seis anos, a partir de janeiro de 1938, publicou no "Diário de Notícias" a coluna "A manhã tem mais...".

Em 1945, conheceu Pablo Neruda, o poeta chileno, que lhe dedicou estes versos: "Ao Barão de Itararé / um grande entre os grandes / com respeito o saúda / de pé / o poeta dos Andes: / Neruda". No mesmo ano, ressurgiu "A Manha", com enorme sucesso. Colaboravam no jornal escritores de renome: José Lins do Rego, Sérgio Milliet, Rubem Braga, Raimundo Magalhães Jr. e Álvaro Lins.

Aporelly, como o humorista assinava, foi eleito vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Comunista Brasileiro. O slogan de sua campanha política era: "Mais leite, mais água, mas menos água no leite - Vote no Barão de Itararé, Aparício Torelly". Em 1947, o registro do partido foi cassado e o "barão" perdeu o mandato.

Convidado pelo líder comunista Luiz Carlos Prestes, Aporelly começou a escrever na "Folha do Povo", junto com o poeta Carlos Drummond de Andrade, o pintor Di Cavalcanti e o escritor Jorge Amado.

Nos anos 1950, "A Manha" voltou novamente a circular e o jornalista passou a viver em São Paulo. Nessa época, lançou várias edições do "Almanhaque", uma paródia dos almanaques tradicionais. Trazia, por exemplo, a biografia de Aparício e de sua família. Senhor feudal de Bangu-sur-mer, o barão seria um "homem sem segredos que vive às claras, aproveitando as gemas e sem desprezar as cascas", um "grande herói que a pátria chora em vida e há de sorrir, incrédula, quando o souber morto".

Outra marca registrada de Aporelly está presente no "Almanhaque": suas tiradas, como: "A estrela de Belém foi o primeiro anúncio luminoso" ou a confusão que o teria feito aderir ao integralismo, cujo lema era "Deus, Pátria e Família!", e que o barão teria entendido como "Adeus, pátria e família!".

Convidado pelo governo comunista de Pequim, o barão fez uma viagem pela China, em 1963, e foi também a Moscou, capital da Rússia (então União Soviética). De volta ao Rio de Janeiro, isolou-se em seu pequeno apartamento, no bairro de Laranjeiras, onde morou até sua morte, aos 76 anos.