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Dario Fo Dramaturgo, arquiteto e comediante italiano

24/03/1926, San Giano (Varese, Itália)

Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

13/08/2005 14h44

Prêmio Nobel de literatura, Dario Fo não se encaixa no estereótipo do escritor que fica dias debruçado sobre uma escrivaninha, na máquina de escrever ou no computador para produzir uma trama. Ator, mímico e palhaço, ele faz esboços das tramas em pinturas e depois apresenta suas idéias no palco antes de as colocar no papel. Fo improvisa perante a platéia, numa mistura de dialetos italianos, onomatopéias e palavras inventadas. Assim nascem suas comédias traduzidas em mais de 30 idiomas.

Nascido em uma família de tradição antifascita, em 1940 ingressou na Academia de Belas Artes de Brera, em Milão. Após a guerra, começou a estudar a arquitetura no Instituto Politécnico, mas teve de desistir quando estava prestes a se formar. Afinal, fora convocado pelo exército da República de Saló, quando os facistas de Mussolini tentaram retomar o controle da Itália. Conseguiu escapar, porém, teve de ficar escondido por meses em um sótão.

Seu pai, Felice, e sua mãe, Pina Rota, socialistas, eram membros ativos na resistência. Mestre da estação e ator em uma companhia amadora, Felice organizava a fuga por trem de cientistas judeus e prisioneiros de guerra britânicos para a Suíça. Pina tratava os rebeldes feridos.

Ao fim da guerra, Dario retornou a seus estudos na Academia de Brera e no Instituto Politécnico, mas depois abandonaria seus trabalho e estudos, repugnado pelo corrupção existente no setor das edificações.
Para manter Dario e seus irmãos Fúlvio e Bianca na faculdade, Pina costurava camisas. "Quando penso naquele período entre 44 e 45 me parece incrível ter vivido tantas histórias, todas condensadas num espaço de tempo tão breve. Situações grotescas, trágicas, freqüentemente vividas como se eu estivesse dentro de um pesadelo", escreveria Fo em "Il paese dei Mezaràt", em 2002.
Dario trabalhou em projetos de palcos e decoração teatral entre 1945 e 1951, porém, já começava a improvisar monológos. Participou de um momento de renovação do teatro italiano, com o fenômeno do novo teatri do piccoli (teatros pequenos) em que foi desenvolvida uma linguagem popular para as peças.
No verão de 1950, Dario apresentou a Franco Parenti uma parábola de Caim e Abel. Na sátira, Caim é um tolo que tenta imitar Abel, loiro e de olhos azuis. Após sofrer um desastre após outro, ele fica louco e mata o esplêndido Abel. Impressionado, Parenti convida Fo para se juntar a sua companhia de teatro.
Dario Fo se apresentava ao lado da mulher, Franca Rame, atriz de uma tradicional linhagem da Commedia dell'arte. Na Itália, apesar do sucesso em sua carreira pessoal, ela ainda é lembrada como filha de Domenico Rame. "Franca nasceu no teatro de 400 anos atrás", diz Fo. "Essa mulher tem pelo menos 400 anos de vida no teatro, talvez 500" - emenda. Ambos exploravam o potencial cômico dos erros no palco como parte da tradição medieval e renascentista dos artistas viajantes.
O alvo mais polêmico das sátiras de Fo é a burocracia da Igreja Católica. Para o jornal oficial do Vaticano, "Mistério Bufo", peça de 1969, televisionada em 1977, é "o programa mais blasfemo jamais levado ao ar na história da televisão mundial". A comédia era baseada no grammelot, uma língua inventada por Fo baseada na mistura de fonemas modernos e dialetos em desuso da região padana, ao Norte da península Itálica.
Reapresentada por Fo e Franca Rame ao longo dos anos em diversos palcos, como em Moscou e Amsterdã em 1991, a sátira ainda faz sucesso. O autor recebeu o Premio Nobel de Literatura em 9 de outubro de 1997. No ano seguinte, o Ministério da Cultura da França concedeu a Fo a Comenda das Artes e das Letras. Em maio de 2000 recebeu, naquele país, três prêmios Molière por sua peça "Morte acidental de um anarquista".

Em dezembro de 2003 estreou sua ópera satírica "O anômalo bicéfalo", sobre Silvio Berlusconi, então chefe do governo italiano e presidente do conselho da União Européia. Em março de 2005, aos 79 anos, Dario Fo recebeu da Universidade Sorbonne, Paris, o título de laurea honoris causa.