Domingos Fernandes Calabar
?/?/1600, Porto Calvo (AL)<p>22/7/1635, Porto Calvo (AL)
Autor Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
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Domingos Fernandes Calabar teve seu nome associado à idéia de traição
"Entre as ruínas da Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, datada de 1630, (...) [vagueia] o vulto de Domingos Calabar, assombração que a sedícia e o malogro da invasão holandesa no Brasil obrigaram a penar sem resguardo." É assim que a escritora Nélida Piñon imagina, condenada a um sofrimento sem fim, a figura de Calabar, ao mesmo tempo herói e traidor da pátria, durante a invasão holandesa.
De família humilde, filho de pai português e de mãe indígena, Domingos Fernandes Calabar teve formação religiosa, estudando com os jesuítas. Em 1630, durante a invasão holandesa a Pernambuco, foi um dos primeiros a se oferecer para lutar, defendendo os portugueses. Deixou para trás gado e terras, para se tornar combatente.
Em 1631, os holandeses conquistaram Ilha de Itamaracá, mas a expansão de seus domínios foi muito lenta. A defesa brasileira, comandada pelo português Matias de Albuquerque, usava uma tática de guerrilhas e, por meio de emboscadas, enfraquecia o exército inimigo. Portugal, por sua vez, mandou como reforço uma armada de mais de 50 navios. Em setembro deste mesmo ano, também desembarcavam tropas espanholas para ajudar na defesa da terra.
No entanto, o descontentamento dos brasileiros que lutavam ao lado dos portugueses aumentava cada vez mais, devido aos maus tratos que recebiam e o pouco reconhecimento que tinham pelos seus serviços. Por outro lado, os holandeses passaram a oferecer recompensas a quem com eles colaborasse.
Em 22 de abril de 1632, Calabar se aliou aos holandeses. Embora o significado de seu gesto e suas intenções jamais tenham sido totalmente esclarecidos, as conseqüências de sua atitude mudaram os rumos do conflito.
Domingos Fernandes Calabar aceitou o posto de major, que lhe foi oferecido, exigindo apenas informações detalhadas sobre o tratamento que seria dado aos brasileiros em caso de vitória holandesa. Em carta dirigida ao governador da capitania, Matias de Albuquerque, Calabar afirmou que passou para o outro lado não como traidor, mas como patriota, vendo que os holandeses procuravam implantar a liberdade no Brasil, enquanto os portugueses e espanhóis tinham interesse em escravizar o nosso país.
No período entre abril de 1632 e julho de 1635, Calabar foi responsável por grande parte das vitórias dos holandeses sobre os portugueses. Lutando contra seus antigos companheiros, revelou tudo o que sabia aos invasores. Com sua ajuda, os holandeses conquistaram várias cidades em Pernambuco. Incursionaram também, com sucesso, pelas capitanias da Paraíba e do Rio Grande do Norte, derrotando importantes centros de resistência hispano-portuguesa.
Em março de 1635 os holandeses atacaram Porto Calvo, terra natal do próprio Calabar. Os portugueses fugiram, deixando os moradores submetidos aos holandeses. A única estrada em condições de ser usada na região estava vigiada por Calabar. O general Matias de Albuquerque, que se retirava para o norte da região, forçou passagem, atacando o local com sucesso.
Domingos Fernandes Calabar foi preso e condenado. Seu nome ficou para sempre associado à ideia de traição. Um tribunal militar proferiu sua sentença. No dia 22 de julho de 1635, Calabar foi submetido ao garrote e depois enforcado. Seu corpo, esquartejado, ficou exposto em praça pública.