Gabriele D'Annunzio Escritor italiano
12 de março de 1863, Pescara (Itália)
5 de março de 1938, Gardone Riviera (Itália)
Gaetano Rapagnetta, conhecido pelo pseudônimo de Gabriele D'Annunzio, dedicou-se à literatura desde muito jovem, quando, influenciado pela lírica de Giosuè Carducci (1835-1907), publica a obra Primavera, aos 16 anos. Adere, depois, ao Verismo (corrente artística italiana que reagiu contra as convenções artificiais e falseadoras da realidade cotidiana e dos problemas sociais), ao mesmo tempo em que revela os traços mais típicos de seu temperamento: o egoísmo, a paixão pelo prazer e pela natureza.
Torna-se famoso com o romance O prazer, de 1889, dedicado à atriz Eleonora Duse. São dessa época as suas melhores peças teatrais. Em 1900 ingressa na política, porta-voz do nacionalismo de extrema-direita. Os escândalos de sua vida privada, contudo, não lhe facilitam a nova carreira.
Em 1911, perseguido por inimigos e credores, refugia-se em Paris, onde escreve O martírio de são Sebastião, que Achille-Claude Debussy, depois, musicaria.
Fascismo
A Primeira Guerra Mundial o encontra a favor dos aliados. Servindo na aviação italiana, é ferido em 1916. Três anos depois, toma a cidade de Fiume, ameaçada de ocupação anglo-francesa, faz-se seu governante, dá-lhe uma estranha constituição e, entre legionários que usam camisas negras, é deposto, com tato, pelas tropas italianas.
D'Annunzio é, então, glorificado pelo fascismo emergente: recebe o título de príncipe de Monte Nevoso e a grande propriedade do Vittoriale, onde fica até a morte, cercado de todos os tipos de extravagâncias.
Capricho artesanal e alegria de viver
A personalidade de Gabriele D'Annunzio, com seus transbordamentos passionais, sua falta de escrúpulos, seu gosto pelo diletantismo, pelas poses, pelo fausto, contribuiu para que se tornasse difícil e controvertida a apreciação de seu trabalho estético e literário.
Inquieto, influenciável, oportunista, muitas vezes imitador e até mesmo plagiário, D'Annunzio ainda se impõe, contudo, pela riqueza de sua imaginação, pela força verbal e extraordinário domínio da língua.
É um dos melhores poetas de seu tempo, dividindo com Carducci e Giovanni Pascoli (1855-1912) o lugar mais alto do movimento literário da Itália unificada. Com seus livros Canto novo, de 1882, e Intervalo de rimas, de 1883, demonstra os acentos mais originais da sua obra poética, o seu capricho artesanal e seu tema predileto: a comunicação comovida do amor à natureza e à alegria de viver.
D'Annunzio não é menos tocante quando se aproxima do erótico, que ele sabe moldar com a requintada dicção da doçura e do amargor de amar e desamar. Anos depois, em 1912, ele se tornaria um nietzschiano, trocando as ardentes franquezas do homem pelo heroísmo do super-homem. Escreveria, então, poemas mitológicos, históricos, descritivos, muitas vezes admiráveis pelo que recriam da paisagem e da ambiência italiana.
Prosa poética
O prosador D'Annunzio, que fez fama mais rapidamente do que o poeta, salienta-se com O prazer, onde seu lúbrico esteticismo, seus excessos e brilhos garantem um público apaixonado e menos exigente. Mas a melhor expressão do seu decadentismo de feição naturalista encontra-se em O inocente e Giovanni Episcopo.
No romance O triunfo da morte, apesar da morbidez encontramos excelente prosa poética. As virgens dos rochedos, O fogo e Talvez sim, talvez não são criações do escritor ególatra, luxuriante, aristocrata da pompa e dos enfados, culto, capaz de notáveis páginas paisagísticas e influenciado por Nietzsche. Mas em Leda sem cisne, de 1913, suas qualidades ultrapassam de longe os seus defeitos.
Várias outras de suas últimas obras em prosa são das que permanecem, como Contemplação da morte, O companheiro dos olhos sem cílios e Noturno, de 1916, meditação misteriosa, profunda, repleta de musicalidade. Mas ele também escreveu várias peças para teatro, destacando-se, a melhor delas, A filha de Jório, uma tragédia pastoral de fundo primitivo e ritmo popular.
Segundo Christian Bec, em seu Fundamentos de Literatura Italiana, "D'Annunzio ensaiou-se em todos os gêneros literários e adotou todos os estilos, da exuberância barroca das imagens ao despojamento, da frase 'linear' à frase 'recortada', numa obra superabundante, na qual, além disso, se fundem todas as correntes literárias e culturais da Europa pós-naturalismo, para não falar da tradição clássica italiana.
Ele assimilou todas as experiências do 'decadentismo' europeu (Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé, Wagner, Nietzsche, Wilde, etc.), mas delas reteve somente o aspecto mais vistoso, o mais imediatamente capaz de ser consumido pelo mercado literário, cujas possibilidades ele soube explorar de modo notável. Nem por isso deixou de abrir a Itália à cultura moderna, contribuindo, assim, para tirá-la do provincianismo.
Sucessor real de Carducci como poeta nacional, o impacto que teve na literatura italiana foi tamanho que os escritores seus conterrâneos da geração seguinte tiveram de definir-se a seu favor ou contra ele, isto é, em relação a ele".