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Mário Lago Compositor e ator brasileiro

26/11/1911, Rio de Janeiro, Brasil

30/05/2002, Rio de Janeiro, Brasil

Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

05/12/2005 16h16

"Amélia é que era mulher de verdade". Muita gente nascida no Brasil nas últimas décadas do século 20 conhece esse verso da canção "Ai que Saudades da Amélia", composta por Mário Lago em parceria com Ataulfo Alves nos anos 1940.

Amélia ficou tão popular que se tornou sinônimo de mulher submissa, que só cuida da casa e obedece ao marido, e trechos da música foram usados com esse sentido, em várias propagandas. A essa composição se juntaram outros sucessos, como a marcha carnavalesca "Aurora" e "Atire a primeira pedra".

Mário Lago gostava de escrever - e fazia isso bem: aos 15 anos publicou seu primeiro poema na imprensa carioca. Estudou na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, onde se formou em 1933, mas não exerceu a profissão de advogado. Criado numa família que apreciava as artes e o espetáculo, ele preferiu compor para o teatro de revista, um gênero de teatro musicado que fez muito sucesso dos anos 30 aos 50. Para isso, Mário teve todo apoio de seu pai, que era maestro de operetas, óperas e musicais.

Gravou a primeira música em parceria com Custódio Mesquita, em 1935. E também investiu na carreira de ator: gostava de representar. Começou com a Companhia Joracy Camargo, depois foi para São Paulo atuar com Oduvaldo Viana - e veio a ser um dos mais famosos galãs do teatro de comédia brasileiro nos anos 1940. A essas atividades incorporou as de radialista e ativista político.

Trabalhou no rádio-teatro com Dias Gomes, que já despontava como autor de peças teatrais. Por sua atuação política de esquerda, os dois eram perseguidos pela polícia política.

Depois da temporada paulista, Mário Lago voltou para o Rio de Janeiro. Foi trabalhar na Rádio Nacional, líder de audiência na década de 1940. Foi a "época de ouro" do rádio brasileiro quando a programação se desenvolveu e chegou ao ponto mais alto de popularidade. Cantores, atores, locutores e diretores eram superestrelas do mundo do espetáculo, queridos em todo o país. "Nossas canções cruzando o espaço azul / Vão reunindo num grande abraço / Corações de norte a sul", dizia a música Cantores do rádio composta por por Lamartine Babo, João de Barro e Alberto Ribeiro, gravada pela Odeon, em 1936.

Na disputa pelos ouvintes, novos programas eram pesquisados e lançados, e foi assim com o radioteatro e a radionovela, lançada pela Nacional em 1942. Ali Mário trabalhou em todas as frentes, escrevendo, dirigindo e atuando, até 1948, quando foi repetir seu padrão de múltiplos talentos na Rádio Mayrink Veiga.

Membro do Partido Comunista, conheceu Luís Carlos Prestes, a quem admirava, e também Suely, com quem se casou, teve cinco filhos, e viveu por 50 anos, até a morte dela. Por sua opção política por um partido que vivia na ilegalidade no Brasil a maior parte do tempo, Mário foi preso e demitido. A perseguição começou no Estado Novo, ditadura de Getulio Vargas (1930-1937) e prosseguiu na época da ditadura militar, iniciada em 1964. O saldo dos dias de cárcere foram alguns livros escritos por Lago: "O Povo Escreve a História nas Paredes", "Primeiro de Abril". Nos anos seguintes publicou "Na Rolança do Tempo", "Bagaço de Beira de Estrada", "Meia Porção de Sarapatel".

O rádio encontrou uma concorrente séria: a televisão chegou ao Brasil. Esse novo veículo também faria parte da vida de Mário nos 50 anos seguintes. Ele foi um dos pioneiros da TV brasileira. Começou sua carreira na telinha em 1950, atuando ao vivo: gravação era um recurso inexistente. Ator consagrado, só foi trabalhar na Globo no fim dos anos 1960: era vetado pela direção por ser comunista. Mas o ator Henrique Martins conseguiu convencer os patrões - e vencer a resistência da então famosa autora de novelas, Glória Magadan. Exilada cubana, ela era contra o regime de Fidel Castro, e tinha horror ao comunismo.

Mário foi contratado e atuou por mais de 30 anos na Globo - em mais de 30 telenovelas -, e recebeu várias vezes o prêmio de Melhor Ator.
Também foi ator de cinema, em mais de 20 filmes. Representou no teatro até o fim da sua longa vida - subiu pela última vez no palco em janeiro de 2002. Nunca deixou de compor - somou cerca de 200 músicas gravadas -, nem saiu do Partido Comunista.

Em sua última entrevista ao Jornal do Brasil, declarou: "Vivi. Essa é a coisa principal que fiz".