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Martinho Lutero Teólogo alemão

10 de novembro de 1483, Eisleben (Alemanha)

18 de fevereiro de 1546, Eisleben (Alemanha)

Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

29/09/2008 17h15

Fundador do luteranismo, Martinho Lutero foi o maior vulto da reforma protestante. Seus pais, de origem camponesa, aspiravam dar ao filho uma educação aprimorada, fazendo-o advogado. Lutero estudou em várias cidades e ingressou, em 1501, na Universidade de Erfurt, onde estudou os clássicos latinos, bacharelando-se em artes, lógica, retórica, física e filosofia. Dois anos depois, concluía seu mestrado em matemática, metafísica e ética.

Em 1505, quando se preparava para o estudo de direito, foi abalado por dois acontecimentos: a morte repentina de um amigo e o fato de quase ter sido atingido por um raio. Isto, segundo alguns, foi o fator decisivo para sua entrada no mosteiro dos eremitas agostinianos, em Erfurt, em 17 de julho de 1505.

Lutero destacou-se na vida monástica, sendo ordenado sacerdote em 1507. Em 1508 foi para Wittemberg, onde se bacharelou em teologia um ano depois. De fins de 1510 a princípios de 1511 permaneceu em Roma para tratar de assuntos de sua ordem, e ali sentiu-se chocado com o secularismo da Igreja e o baixo nível moral da cidade.

Em 1512, novamente em Wittenberg, onde passaria o resto da vida, recebeu o título de doutor em teologia. Tornou-se professor sobre a Bíblia e grande pregador, cheio de zelo e devoção, cabendo-lhe o cargo, em 1515, de diretor de estudos e vigário distrital, encarregado de 11 mosteiros.

A partir desse momento, dedica-se ao estudo de Guilherme de Occam, a quem chama de "meu mestre", Duns Scotus e santo Agostinho, dedicando a este último grande predileção, sobretudo por lhe ter aberto os olhos contra o domínio de Aristóteles na teologia.

As 95 teses

Em 1517, o papa Leão 10, em troca de grande soma destinada à construção da nova basílica de São Pedro, em Roma, acolheu as pretensões de Alberto de Brandemburgo, que pretendia ocupar simultaneamente o arcebispado de Mainz, o de Magdeburg e, ainda, o bispado de Halberstadt. Em contrapartida, o papa concedia indulgências - a remissão, total ou parcial, das penas que cada um devia sofrer, na terra ou no purgatório, pelos pecados cometidos, que valeriam na medida em que houvesse propósito firme e vontade interior.

Lutero, convencido de que a salvação só poderia vir de uma relação pessoal com Deus, e de que as indulgências eram mero negócio, pregou contra seu abuso, afixando as suas famosas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, em 31 de outubro de 1517.

Essa tomada de posição de um monge conhecido e respeitado contra um grande abuso correu todo o império, e Johannes Tetzel, o dominicano encarregado da venda das indulgências, respondeu imediatamente e instigou outros oponentes e teólogos a acusarem Lutero de heresia. Lutero respondeu com um sermão intitulado "Indulgência e graça", cujos argumentos reforçaria num trabalho posterior, "Resoluções luteranas", e acabou apelando para o papa. Este, contudo, exige - por meio da bula "Exsurge Domine" - que Lutero se retrate, o que o monge agostiniano se recusa a fazer, queimando a bula papal em praça pública, a 10 de dezembro de 1520, sendo então excomungado.

Não pretendendo deixar a Igreja, nem mesmo reformar os costumes eclesiásticos, mas sim colocar a teologia a serviço do que entendia por "a verdade", Lutero usa todos os meios para convencer o clero dos erros que ele apontava.

Em 1520 escreve três artigos reformistas e conclama pela reforma da Cúria, pela supressão do celibato eclesiástico e dos privilégios do clero. Participa de vários debates e ganha enorme apoio popular, traduzido em grande ovação quando se dirige de Wittemberg para Worms, em 17 de abril de 1521. Ali se inaugura a dieta, na qual a sua posição é discutida, estando presente o próprio imperador.

Durante a dieta de Worms, embora reconhecesse que fora duro nas suas expressões, Lutero não se retratou ante a assembleia e ainda causou boa impressão. Não querendo tomar uma atitude pública a seu favor, o imperador manda sequestrar Lutero e o mantém em segredo, durante vários meses, no castelo de Wartburg, perto de Eisenach, onde o monge continua a escrever e onde traduz do grego o Novo Testamento, criando uma nova língua para a literatura alemã.

Em março de 1522 Lutero deixa espontaneamente o seu esconderijo, continuando a luta livremente durante mais dez anos. Em 2 de outubro de 1524 deixa o hábito de monge agostiniano que usava há 19 anos. Nesse mesmo ano empenha-se numa polêmica contra os camponeses revoltados, concordando com seu massacre em 1525. No mesmo ano casa-se com a ex-freira Katharina Von Bora.

Ideias e críticas

O pensamento de Lutero centralizava-se em alguns pontos que viriam a ser os princípios da reforma protestante: o sacerdócio universal dos crentes, a justificação pela fé, a autoridade exclusiva da Bíblia em questões de fé, a pessoa salvadora de Cristo. Só admitia dois sacramentos - o batismo e a eucaristia.

A soberania de Deus, que se exerce sobre todas as fases da existência, incluindo a ordem política, levou Lutero ao conceito de que os dois reinos - o de Deus e o do mundo -, embora com suas esferas próprias e definidas, estão sujeitos à soberana vontade de Deus, e ambos, portanto, exigem a leal submissão dos crentes. Negava, assim, a submissão do Estado à Igreja.

Sua doutrina teria oferecido, dessa forma, a ideologia oportuna ao nascente nacionalismo alemão, retardado em relação à unificação nacional já processada na Espanha, na França e no Reino Unido.

O pensamento de Lutero sobre a íntima relação entre profissão e trabalho teria dado origem ou, pelo menos, favorecido o processo de secularização, fato que colocaria o reformador na base dos grandes movimentos de renovação do nosso tempo, abrindo caminho para a Idade Moderna.

Por outro lado, segundo outros, a insistência de Lutero na ideia da pureza da doutrina, como único critério infalível para a Igreja, estabelecia um obstáculo cada vez maior para o desenvolvimento de novas concepções no terreno ético. A profissão, tomada como missão, tornava-se absolutizante e alienante. Ele considerava "arrogância" o cristão mudar do estado e profissão em que Deus o colocara - e disso resultava a manutenção do tradicionalismo econômico.

Para o teólogo protestante Ernst Troeltsch, há necessidade de se distinguir entre um protestantismo velho e um novo. A confiança irrestrita na Bíblia, como fonte última e definitiva da verdade, levaria ao desprezo de uma atividade intelectual criadora. Lutero, por exemplo, chegaria a chamar a razão de "prostituta do diabo", afirmando não ser necessário entender a revelação.

Fonte: Enciclopédia Mirador Internacional