Mílton Santos Geógrafo
-
Morreu em São Paulo, dia 25 de junho, aos 75 anos, o geógrafo Mílton Santos, um dos intelectuais brasileiros mais reconhecidos no país e no exterior. Mílton Santos realizou uma verdadeira reinvenção da Geografia, incorporando ao estudo do espaço geográfico a ação concreta que os homens exercem sobre ele. Para o geógrafo, estudar a geografia de uma região era, além do meio físico, estudar a história, a cultura, a economia e a política dessa região. O espaço geográfico em si, os recursos naturais só adquiriam sentido quando postos no cenário real das relações sociais. As idéias do geógrafo fizeram escola, e pode-se dizer que ele foi um dos grandes responsáveis por essa disciplina passar a ser vista no Brasil como uma das ciências humanas. Mílton Santos publicou mais de 40 livros e de 300 artigos e recebeu 20 títulos honoris causa de universidades de todos os continentes. Foi o único pesquisador sem ascendência anglo-saxônica a receber, em 1994, o Prêmio Vautrin Lud, considerado o "Nobel" da Geografia. Além de consultor da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), notabilizou-se como professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) e como membro da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano. Natural de Brotas de Macaúba, na Chapada Diamantina (BA), Mílton Santos era filho de professores primários e aprendeu a ler em casa, com os pais, começando a freqüentar a escola apenas aos 10 anos ? o Instituto Baiano de Ensino, em Salvador. Descendente de escravos emancipados antes da Abolição, formou-se em Direito, em 1948, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutorando-se em Geografia pela Universidade de Estrasburgo (França). Atuou como jornalista em vários momentos da vida. No início do regime militar, combinava as atividades de redator do jornal A Tarde, de Salvador, com a de professor universitário, defendendo posições nacionalistas. Demitido da UFBA em 1964, foi preso e, depois, aceitou convite para lecionar no exterior. Foi professor nas universidades de Toulouse, Bordeaux e Paris (França); Toronto (Canadá); Lima (Peru); Dar Assalaam (Tanzânia); Columbia (EUA); Central de Venezuela e Zulia (Venezuela). Retornou definitivamente ao Brasil em 1977, para lecionar na USP. As cidades foram um dos grandes temas de Mílton Santos. Para ele, em vez de espaços que deterioram a qualidade de vida da população, como muitos geógrafos pensam, as cidades, por sua multiplicidade de ofertas, representam grandes possibilidades de enriquecimento cultural e desenvolvimento humano, opções de inovação, facilidades econômicas e democratização do acesso a bens tanto culturais quanto materiais. Mílton Santos estava trabalhando em um livro sobre Salvador e suas opções de urbanização. Principais publicações: A Natureza do Espaço, A Urbanização Brasileira, Metamorfoses do Espaço Habitado, Novos Rumos da Geografia Brasileira, O Trabalho do Geógrafo no Terceiro Mundo, O Espaço do Cidadão e ? seus dois livros mais recentes ? Por uma outra Globalização e O Brasil: Território e Sociedade no Início do Século XXI (junto com Maria Laura Silveira), estes últimos pela Record, que programa a republicação do conjunto de suas obras.