Norberto Bobbio Filósofo político italiano
18/10/1909, Turim (Itália)
9/01/ 2004, Turim (Itália)
"Cada vez sabemos menos". A frase é de um dos grandes pensadores do século 20, Norberto Bobbio. Formado em filosofia e em direito, foi professor universitário e jornalista - e um apaixonado pela teoria política e pelos direitos individuais. Na Itália dos anos 1940, mergulhada na Segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945), Bobbio fez parte do movimento da Resistência: ligou-se a grupos liberais e socialistas que combatiam a ditadura do fascismo.
Para quem não sabe, o movimento fascista foi fundado por Benito Mussolini, em 1922 e se baseava na crença de superioridade de uma "raça" sobre as demais, além de governar autoritariamente com um regime baseado na perda das liberdades individuais e na violência. Por suas ideias, o filósofo foi preso duas vezes, em 1942 e em 1944 - no intervalo entre as duas prisões, casou-se com Valeria Cova. O casal teria três filhos e viveria junto por quase 60 anos.
A decisão de não concorrer a cargos na política de seu país não impediu Bobbio de influenciá-la ativamente, sempre presente e participante. Professor emérito das universidades de Turim, Paris, Buenos Aires, Madri e Bolonha, o filósofo foi um ponto de referência no debate intelectual e político de seu tempo - e continua a ser para todos que defendem a democracia. Autor de mais de vinte obras, foi nomeado senador vitalício pelo presidente italiano Sandro Pertini, em 1984, que escreveu a Valéria: "Diga a ele que suas ideias são iguais às minhas".
O pensador se autodefinia como um militante da razão. Costumava dizer que embora o homem moderno tenha desvendado milhões de coisas que eram desconhecidas dos antigos, o mundo de hoje é cada vez mais incompreensível, menos transparente. Bobbio sempre defendeu o individualismo diante do Estado. Isso significa que ele acreditou e lutou contra as ditaduras, para que a liberdade de cada pessoa tivesse mais valor que a autoridade do governo de qualquer país quando esta é excessiva. Por esse motivo, considerava a criação dos tribunais para julgar crimes de guerra a maior conquista do seu século.
Sua vasta obra estuda a filosofia do direito, a ética, a filosofia política e a história das ideias. Nela se discutem as ligações entre razões de Estado e democracia, além de temas fundamentais, como a tolerância, relacionada ao preconceito, ao racismo e à questão da imigração na Europa atual, obrigada a conviver com diferentes crenças religiosas e políticas. Bobbio acreditava que a democracia precisa de cidadãos comprometidos com o combate a todo tipo de preconceito e com a prática diária da tolerância.
A ética é apontada pelo intelectual italiano como um requisito indispensável para uma saudável relação entre a moral e a política. A ética é um ramo da filosofia que estuda a natureza do que se considera ser o bem, adequado e moralmente correto.
O jornal francês "Le Monde" chamou Bobbio de "mâitre-à-penser" (mestre do pensamento) do século 20, no mesmo patamar de Raymond Aron e Jean Paul Sartre. Mas ele não fazia questão de ser chamado de ateu (que não crê em Deus), como muitos dos intelectuais. Costumava dizer que havia se afastado da igreja, não da religião.
Numa entrevista em abril de 2000, ao jornal italiano "La Repubblica", o filósofo disse: "Quando sinto ter chegado ao fim da vida sem ter encontrado uma resposta às perguntas últimas, a minha inteligência fica humilhada, e eu aceito esta humilhação, aceito-a e não procuro fugir desta humilhação com a fé, por meio de caminhos que não consigo percorrer. Continuo a ser homem, com minha razão limitada e humilhada: sei que não sei. Isso eu chamo de minha religiosidade".
Bobbio morreu como viveu, com grande dignidade, instruindo os médicos a não intervir para tentar prolongar sua vida.