Patrícia Galvão, Pagu Jornalista, escritora e ativista política brasileira
09/06/1910, São João da Boa Vista (SP)
12/12/1962, Santos (SP)
Patrícia Rehder Galvão defendia a participação ativa da mulher na sociedade e na política - e foi a primeira brasileira do século 20 a ser presa política. Aos 15 anos, estudava para professora na Escola Normal e era colaboradora de um jornal de bairro em São Paulo, com o pseudônimo Patty.
De acordo com seu biógrafo Augusto de Campos, o apelido Pagu foi dado pelo poeta Raul Bopp, quando Patrícia lhe mostrou alguns poemas. Bopp sugeriu que ela adotasse um nome literário feito com primeiras sílabas de seu nome e sobrenome: Pagu. Foi um engano de Bopp, pensando que a moça se chamasse Patrícia Goulart. Mas ele escreveu um poema para ela, O coco de Pagu, e o apelido pegou.
Tinha 19 anos quando conheceu o casal de modernistas Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral que a apresentaram ao movimento antropofágico e praticamente a "adotaram".
Em 1930 Oswald separou-se de Tarsila e se casou-se com Pagu que estava grávida de seu primeiro filho, Rudá de Andrade, nascido no mesmo ano. Três meses após o parto, Pagu viajou para Buenos Aires, na Argentina, para participar de um festival de poesia. Conheceu Luís Carlos Prestes, e voltou entusiasmada com os ideais marxistas.
Na volta, filiou-se ao Partido Comunista (PCB), junto com Oswald. Foi o início de um período de intensa militância política. Em março de 1931, o casal fundou o jornal "O Homem do Povo", que apoiava "a esquerda revolucionária em prol da realização das reformas necessárias". Em seus artigos, Pagu criticava as "feministas de elite", e os valores das mulheres paulistas das classes dominantes.
Oswald publicou ataques à Faculdade de Direito do Largo São Francisco, chamando-a de "cancro" que minava o Estado. O tabloide foi empastelado pelos estudantes da faculdade e o Secretário de Segurança do Estado mandou fechar o jornal.
No mesmo ano, em 15 de abril de 1931, Pagu foi presa como militante comunista, durante uma greve dos estivadores em Santos. Quando foi solta, o PCB a fez assinar um documento em que se declarava uma "agitadora individual, sensacionalista e inexperiente".
Seu primeiro romance, "Parque industrial", foi publicada em 1933, mas Pagu teve de assiná-la como Mara Lobo: foi uma exigência do Partido Comunista. A obra é uma narrativa urbana sobre a vida das operárias da cidade de São Paulo.
Jornalismo
Correspondente de vários jornais, Pagu visitou os Estados Unidos, o Japão e a China. Entrevistou Sigmund Freud e assistiu à coroação de Pu-Yi, o último imperador chinês. Foi por intermédio dele que Pagu conseguiu sementes de soja, enviadas ao Brasil e introduzidas na economia agrícola brasileira.
A seguir, Pagu foi à União Soviética. Registrou, em "Verdade e Liberdade", sua decepção com o comunismo: "o ideal ruiu, na Rússia, diante da infância miserável das sarjetas, os pés descalços e os olhos agudos de fome".
Filiou-se ao PC na França, onde também fez cursos na Sorbonne, em Paris. Foi presa como militante comunista estrangeira, em 1935. Ia ser deportada para a Alemanha nazista, quando o embaixador brasileiro Souza Dantas conseguiu mandá-la de volta ao Brasil.
Pagu separou-se de Oswald de Andrade e começou a trabalhar no jornal "A Plateia". Durante a revolta comunista de 1935, Pagu foi presa e torturada outra vez. Cumpre cinco anos e mais seis meses por se recusar a prestar homenagem a Adhemar de Barros, interventor federal em visita ao presídio. Nesse período, foi perseguida pelos integrantes do PC. Patrícia rompe com o partido ao sair da cadeia, em 1940. Estava muito doente, arrasada, e pesava 44 quilos - tentou suicídio ao ser libertada.
No ano seguinte, casada com o jornalista Geraldo Ferraz, teve seu segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz. Trabalhou nos jornais cariocas "A Manhã", "O Jornal", e nos paulistanos "A Noite" e "Diário de São Paulo". Com o pseudônimo de King Shelter, escreveu contos de suspense para a revista "Detetive", dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues.
Voltou a tentar suicídio, em 1949. Nos anos seguintes, foi crítica literária, teatral e de televisão no jornal "A Tribuna", de Santos. Nessa cidade, liderou a campanha para a construção do Teatro Municipal, além de fundar a Associação dos Jornalistas Profissionais. Também criou a "União do Teatro Amador de Santos", por onde passariam os novatos Aracy Balabanian, José Celso Martinez Correa, Sérgio Mamberti e Plínio Marcos.
Pagu voltou a Paris em setembro de 1962, para ser operada de câncer. A cirurgia não teve êxito e ela tentou suicídio novamente. Muito doente, viveu até dezembro. Na véspera de sua morte, um último texto seu é publicado em "A Tribuna" - o poema "Nothing".