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Como educar na cultura da validação

Think Stock
Imagem: Think Stock

Leo Fraiman

06/11/2014 09h35

Educar crianças e jovens inseridos na cultura da validação pode ser um belo desafio. Entretanto, para ser um bom educador, o esforço de entender o quanto eles são afetados pela necessidade de autopromoção deve partir de você.

Hoje em dia, com o ápice das redes sociais, é muito comum nos jovens e, inclusive nos adultos, a necessidade de validação. Ser elogiado por cada foto postada, roupa comprada, maquiagem feita, piada dita, entre muitas outras coisas, se torna essencial para a sobrevivência da autoestima. Afinal, na cultura da validação, o pior castigo é não ser notado.

Por exemplo, quando é criada na escola uma cultura de validação, é incentivado o costume dos alunos de ficarem se provando e exibindo o tempo todo. Mais do que isso, a necessidade de serem aprovados e reconhecidos. Eu já tive amigo que me perguntou se eu gostei da foto que ele postou, eu disse que sim, mas ele ainda me pediu para dar o “like” lá no meu Facebook. Existe um limite que, quando ultrapassado, a vontade de parecer sempre feliz e descolado passa a ser vício. Quando a pessoa deixa de ser ela para ser o que está na moda, o que todo mundo vai gostar ou aquilo que todo mundo vai achar bacana.

Ironicamente, as pessoas que tem mais sucesso, carisma e felicidade são aquelas que são elas mesmas. Gilles Deleuze, um filósofo francês, fala da escravidão intelectual. Por meio de frases como “se eu fosse mulher”, “se eu fosse mais nova”, “se eu fosse mais magra”, as pessoas terceirizam muito a vida e a rede social ajuda muito nisso. Isto é, em vez de fazer suas próprias escolhas, opta, mesmo sem perceber, por permitir que as pessoas à sua volta façam em seu lugar. Se eu posto uma foto com tal roupa e as pessoas dão um “like”, é com ela que vou sair de casa; se uso o perfume da moda, vou me sentir mais sedutor. Para ser feliz, você tem que ser você mesmo e, claro, assumir as decisões tomadas.

No ambiente escolar, um caminho para auxiliar os alunos a não irem pelo caminho do vício na autopromoção é dar mais peso aos elogios do que às broncas. De fato, parece um contrassenso focar no enaltecimento em vez da repreensão para não incentivar as crianças e jovens a mergulharem na cultura da validação, mas focar nos elogios é diferente de não dar as broncas merecidas. Até porque alguns alunos, caso percebam que estão mais evidência se repreendidos, podem comportar-se propositalmente mal para terem destaque perante a sala.

O exemplo também faz parte disso, pois não existe o educar sem educar-se. Isto é, como é possível orientar pessoas sem sequer saber quem somos? Para desejar e exigir de nossos alunos valores, é essencial termos a percepção de que esses valores surgirão justamente de nossa relação com os alunos. Por outro lado, mais importante ainda é cuidar da autogestão do professor. O que isso quer dizer? Antes de tudo, significa se conhecer e, a partir disso, tomar uma postura proativa em relação às áreas de sua vida. Seus alunos fazem de tudo para chamar a atenção dos colegas? Entendê-los para ter ações efetivas que possam ajuda-los a se tornarem a melhor versão de si mesmos é uma forma de ter mostrar a pro atividade que eles necessitam do educador.