Topo

Uma norma para se colocar em prática

Lucila Cano

14/01/2011 07h00

No final de 2010, com as costumeiras retrospectivas do ano que se encerrava, poucos atentaram para a importância do lançamento oficial da Norma ISO 26000 em Genebra, Suíça.

A norma estabelece diretrizes para que a responsabilidade social abra caminho seguro para a sustentabilidade em um mundo vulnerável à degradação. Sua importância deve-se à atualidade da questão social, mas também a algumas características significativas.

A ISO 26000 resulta do envolvimento de representantes de mais de 90 países e mais de 40 organizações internacionais junto à ISO (International Organization for Standardization) durante oito anos de debates. Reflete um consenso entre as diferentes realidades dos mais diferentes países. Dispensa o tradicional selo de identificação para a organização que a adota e materializa-se em um guia de práticas que podem ser seguidas em qualquer lugar do planeta.

Seu principal objetivo é contribuir para que as empresas alcancem o desenvolvimento sustentável através de um comportamento ético em todos os níveis de suas relações, com todos os seus públicos, e em decorrência de suas atividades nos planos econômico, social e ambiental.

Aspectos relevantes

Em sua abrangência, a ISO 26000 visa nortear a conduta das organizações para que atuem em favor da sustentabilidade, com a responsabilidade social que esse compromisso exige. Esse conceito implica em aspectos de grande relevância como a governança, os direitos humanos, as práticas trabalhistas e operacionais, o meio ambiente, o relacionamento com os consumidores e fornecedores, o envolvimento com a comunidade e o desenvolvimento.

Os diversos públicos de interesse de uma organização (colaboradores, acionistas, consumidores, fornecedores e a sociedade como um todo), identificados no meio empresarial como “stakeholders”, cada vez mais tomam conhecimento e consciência da necessidade de um comportamento socialmente responsável. Incorporado ao dia a dia da organização, esse comportamento pode proporcionar benefícios a todos.

Os mecanismos que influenciam essa reação social estão à nossa volta e, como todos sabem, são provocados por uma série de comportamentos irresponsáveis (apenas para contrapor o sentido de responsabilidade) das pessoas e das organizações.

Por isso, o reconhecimento público que toda organização busca depende da medida de sua eficiência no trato do meio ambiente, da equidade social e da boa governança corporativa. Ou seja, da prática das diretrizes propostas pela ISO 26000.

Benefícios

A percepção do desempenho de uma organização no âmbito da responsabilidade social pode influir, entre outros aspectos, na vantagem competitiva; na reputação; na habilidade de atrair e reter colaboradores, clientes, consumidores, investidores; na moral dos colaboradores; no comprometimento e na produtividade deles.

Essa influência se estende a uma visão positiva de investidores, proprietários, doadores, patrocinadores e da comunidade financeira. O relacionamento com outras companhias, governos, a mídia, fornecedores, consumidores e a comunidade em que uma organização atua devem igualmente ser considerados.

Da maneira como foi concebida, após exaustivo período de discussões internacionais, a ISO 26000 pode ser adotada por qualquer tipo de organização, independentemente de porte, atividade ou localização.

Portanto, a partir de agora, colocá-la em prática, depende das organizações. Os conceitos, termos e definições relativos à responsabilidade social estão disponíveis para todos. No Brasil, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) contribuiu decisivamente para enriquecer o conteúdo da ISO 26000 quando, já em 2004, lançou a Norma Brasileira de Responsabilidade Social (ABNT NBR 16001). 

Em dezembro passado, a ABNT (www.abnt.org.br) publicou uma versão da ISO 26000 em português. A associação é o endereço certo para as organizações que, sem demora, se lançarem no caminho da responsabilidade social rumo à sustentabilidade.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.