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Chover no molhado

Lucila Cano

21/01/2011 07h00

O mês de janeiro trouxe muita chuva para grande parte do país. Desta vez mais do que a média dos últimos anos e, com a chuva, danos irreparáveis.

As causas e as culpas das enchentes e deslizamentos estão no noticiário diário através da reportagem, da análise dos especialistas, da opinião dos leitores. Aqui nesta coluna a sensação de vulnerabilidade e o sentimento de desolação suscitam algumas reflexões.

O calendário eleitoral deveria ser mudado. Por que fazer eleições em outubro? Janeiro é o mês ideal para o cidadão comum, sujeito a chuvas e trovoadas, votar. Talvez, assim, lembranças permaneçam mais vivas, promessas se façam mais cumpridas e votos sejam mais eficientes.

Em São Paulo, a Sabesp promove a limpeza da represa de Guarapiranga, que fornece água para a cidade. Água de tomar banho, água de cozinhar, água de beber. Água da qual foram retiradas 60 toneladas de lixo em 2010. E, pasmem, essa é mais ou menos a mesma quantidade de lixo retirada da Guarapiranga a cada nova limpeza.

Ainda em São Paulo, uma das inundações mais recentes trouxe para a margem do Rio Pinheiros um manto de lixo com garrafas PET em profusão. Privilégio do Pinheiros? Privilégio de São Paulo? Não. Insensatez, irresponsabilidade, ignorância de gente que acha que a cidade é uma grande lixeira. E, infelizmente, essa ausência de cidadania independe de idade, sexo, escolaridade e classe econômica.

A opção pela reciclagem

A Abipet (Associação Brasileira da Indústria do PET) mantém um site com informações relevantes (www.abipet.org.br). Entre elas, destaco o Sexto Censo da Reciclagem de PET no Brasil (2009/2010) e o Levpet, um sistema para destinação adequada do PET.

O censo aponta o Brasil como o segundo do ranking dos países que reciclam PET, atrás apenas do Japão. Assim, em 2009, aqui foram recicladas 262 mil toneladas de PET, 3,6% a mais que em 2008, e equivalentes a 55,6% do total produzido no País.

O Levpet é uma iniciativa de serviço interessante. Indica endereços mais próximos do internauta para a correta destinação do PET para reciclagem.

As dificuldades para a coleta de recicláveis persistem. Ela não está disponível em todos os lugares e depende muito da boa vontade do cidadão, que tem que limpar e secar as embalagens, juntá-las e levá-las a um ponto de recepção. Mas, será que não é melhor isso do que se sujeitar ao risco de enchentes e doenças decorrentes delas, a perdas materiais e de vidas? Pensar que isso só acontece com os outros é, no mínimo, ingenuidade.

O papel da indústria

A indústria se esforça no sentido de reduzir o impacto das embalagens no meio ambiente. Em março de 2010, por exemplo, a Coca-Cola lançou a sua PlantBottle. A garrafa tipo PET tem em sua composição 30% de etanol de cana-de-açúcar em substituição ao petróleo. A empresa propõe redução de 25% das emissões de CO2 na fabricação da chamada PET ecológica, a qual é 100% reciclável.

Com o site Rota da Reciclagem (www.rotadareciclagem.com.br), a Tetra Pak desenvolve programa semelhante ao da Abipet. Indica locais para recepção de embalagens longa-vida a partir do endereço fornecido pelo internauta.

As empresas desenvolvem projetos de educação ambiental junto a escolas e participam de inúmeros eventos com foco na coleta de materiais e reciclagem. Assim são as ações de limpeza de praias no Verão e de áreas destinadas a shows que reúnem milhares de pessoas. A indústria também se empenha na formação de catadores e na criação de cooperativas.

De todas as iniciativas, a da reciclagem do alumínio é a mais bem-sucedida, alcançando índices superiores a 90% no Brasil. É raro se encontrar uma latinha jogada na rua. A exemplo do que ocorre com as latinhas, não seria mais compensador se dar valor adicional ao PET? Deixo a sugestão para que a indústria pague pela devolução das garrafas. Quem sabe, ao juntar um dinheirinho, o consumidor não se sensibilize mais pela causa da responsabilidade ambiental?

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.