A alternativa da mobilidade sustentável
Nas grandes cidades, o crescimento da frota agrava a poluição, enquanto os congestionamentos roubam o tempo e a paciência dos motoristas.
Mundialmente, a indústria automobilística vem estabelecendo metas “verdes” para a fabricação de novos modelos, mais leves, mais inteligentes e menos poluentes. Esses avanços, porém, tardam a chegar ao Brasil.
Você já ouviu falar de mobilidade sustentável? Trata-se de um conceito que se refere à qualidade do transporte, de maneira que ele provoque menor impacto social, ambiental e econômico. Para que isso ocorra, é preciso haver uma combinação entre planejamento, estratégia e infraestrutura adequados com sistemas de transporte seguros, rápidos e confiáveis.
Um problema cultural
“O maior problema da mobilidade urbana no Brasil está concentrado em nossa cultura de deslocamentos e não nos sistemas de transporte”, diz o ambientalista Lincoln Paiva.
“O cidadão utiliza apenas um tipo de transporte, seja ele o carro, o ônibus, trem, metrô, bicicleta, motocicleta... Nenhuma ação do mundo é capaz de reverter essa situação. Não basta melhorar as condições do ônibus para fazer com que o motorista deixe de utilizar o carro. Discordo de muitos amigos, que são especialistas em transportes públicos e que alegam que o custo da passagem e a velocidade seriam suficientes para facilitar essa migração. Curitiba, por exemplo, é conhecida no mundo todo pelo seu sistema de corredores de ônibus (BRT), bastante rápido e de construção mais barata que o metrô. No entanto, a cidade tem o maior número de automóveis por habitante do País, mais do que São Paulo, que é o oitavo do Brasil”, prossegue Paiva.
Segundo o ambientalista, “quando falamos em mobilidade, falamos de pessoas e não apenas de formas de transporte, infraestrutura e matriz energética. Estratégias de planejamento deveriam proporcionar às pessoas alternativas mais sustentáveis de deslocamentos”.
O automóvel é apenas um modal
Paiva defende que cada meio de transporte tenha uma função específica e que todos estejam integrados para que a população decida quais utilizar para chegar mais rápido ao seu destino. “Por isso, diz ele, sistemas de transporte integrados, bilhete único para diversos modais, inclusive bicicletas, estacionamentos e compartilhamento de carros deveriam fazer parte do dia a dia das pessoas. Um único meio de transporte não será suficiente para atender à demanda crescente de deslocamentos.”
Para ele, quanto maior o crescimento econômico, maior será a demanda por mobilidade e maiores serão os impactos negativos. “Países desenvolvidos aprenderam essa lição há 50 anos. No Brasil, lidamos com isso na prática. Fechamos os olhos para os conceitos novos de mobilidade e seguimos as lições dos livros de engenharia do século XIX, uma época em que o automóvel era símbolo de desenvolvimento das cidades. Hoje, ele é apenas um modal.”
O ambientalista lembra que “nosso diesel é responsável pelo agravamento de doenças pulmonares e cardíacas. Estudos da Organização Mundial da Saúde comprovam isso. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos tem estudos conclusivos sobre essas questões. Mas a solução não virá apenas do diesel menos poluente e sim de tecnologias que diminuirão as emissões, tais como etanol, diesel de cana-de-açúcar e eletricidade, combinadas com a forma como motoristas conduzem seus veículos. Um programa de Eco-drive (direção ecológica, a partir de sistema que avalia a forma de dirigir, aceleração etc.) reduziria em torno de 10% a 25% das emissões tóxicas do diesel atual, com o mesmo combustível e resultados no curto prazo”.
Lincoln Paiva desenvolve programas corporativos de mobilidade sustentável para funcionários, produção e distribuição de mercadorias. Participa também do Campus Aberto (www.campusaberto.com.br), junto com o Instituto de Mobilidade Verde e outros parceiros. O site é destinado a melhorar a mobilidade dos universitários. Saiba mais no blog dele, no UOL: http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ambiente
*Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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