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Saúde mental e desempenho escolar

Lucila Cano

08/04/2011 07h00

O baixo grau de instrução do chefe da família, o consumo de álcool e de tabaco durante a gravidez da mãe e a ausência de um ou de ambos os pais são alguns dos fatores de risco para a saúde mental e o desempenho escolar de crianças e adolescentes.

No segundo semestre de 2009, um grupo de pesquisadores voltados para as relações entre Neurociências e Educação realizou o Projeto Atenção Brasil, um amplo estudo sobre o que faz bem e o que faz mal para a criança se desenvolver livre de transtornos mentais e com bom desempenho na escola.

O projeto foi idealizado por pesquisadores do Instituto Glia, em colaboração com outros pesquisadores da Universidade de São Paulo, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP), da Universidade La Sapienza (Roma) e do Albert Einstein College of Medicine (EUA).

A base desse trabalho consistiu em entrevistas minuciosas com pais e professores de mais de nove mil crianças e adolescentes de seis a 18 anos de idade, em 18 estados e 87 cidades. Os resultados da pesquisa serviram à elaboração de uma cartilha cujo objetivo é auxiliar na identificação de fatores de risco e proteção para a saúde mental e o desempenho escolar.

Projeto piloto

O dr. Marco Antônio Arruda, neurologista e um dos coordenadores da pesquisa, conta que o Projeto Atenção Brasil originou-se de um trabalho de responsabilidade social do Instituto Glia, que ele dirige, na cidade de Santa Cruz das Palmeiras (SP) em 2005. “Lá atendíamos crianças e adolescentes que passavam por algum processo no fórum da cidade. Eles eram avaliados por mim e por uma equipe de voluntários nas áreas de Psicologia, Fonoaudiologia, Psicopedagogia e Assistência Social.”

“Além do atendimento clínico, continua ele, desenvolvemos atividades de profissionalização e de psicoeducação com pais e professores, incluindo a participação voluntária dos cidadãos. Assim, em 2009 conseguimos, numa grande mobilização, recensear em termos de saúde mental e desempenho escolar todas as crianças do ensino público municipal de 5 a 12 anos de idade. Esse foi o projeto piloto do Atenção Brasil, o qual foi escolhido entre os cinco melhores no Congresso da Academia Americana de Neurologia no ano passado. Até então, nenhum trabalho científico brasileiro tinha obtido essa classificação.”

O dr. Arruda integra uma comunidade virtual, acadêmica e gratuita chamada Comunidade Aprender Criança, a qual possui mais de três mil cidadãos cadastrados no País.

Em 2008, o site da comunidade foi o veículo para apurar os interessados em participar da pesquisa nacional do Projeto Atenção Brasil. De um total de mais de mil voluntários foram selecionados 124 professores, os quais também foram treinados pela internet, através de um outro site (www.atencaobrasil.com.br).

Esses professores realizaram sorteio para selecionar as crianças e adolescentes cujos pais e professores seriam entrevistados através de protocolos específicos.

Uma cartilha para pais e professores

Em suas primeiras linhas, a Cartilha do Educador lembra que “não existe saúde sem saúde mental e justiça social” e, logo em seguida, complementa: “Saúde mental é um estado de bem-estar no qual a criança, o adolescente ou o adulto encontra-se apto a exercer suas habilidades, superar as adversidades da vida, poder estudar e trabalhar de forma produtiva, colaborando com sua comunidade”.

A cartilha explica a metodologia da pesquisa, apresenta os questionários utilizados para as entrevistas, aponta os fatores de risco e de proteção da saúde mental e do desempenho escolar. Ela ainda compara resultados entre cidades de diferentes portes, entre diferentes regiões brasileiras, entre o Brasil e outros países. Traz recomendações para o educador e para a elaboração de programas de saúde mental infantil.

A Cartilha do Educador está disponível para download gratuito, mediante registro no site da Comunidade Aprender Criança (www.aprendercrianca.com.br). Indicada para pais e professores, como diz o dr. Arruda, “pode ser um bom GPS na educação dos dias de hoje”.  

*Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.