Topo

Do supermercado para a lata de lixo

Lucila Cano

29/04/2011 07h00

A dona de casa se sente pressionada: querem banir as sacolas plásticas do supermercado, mas ninguém propõe uma alternativa para ela descartar o lixo doméstico.

Na televisão, ela assiste à cena que sempre se repete nos filmes estrangeiros: a personagem chega em casa com as compras do supermercado acondicionadas em resistentes sacos de papel. “Assim, fica fácil abrir mão das sacolinhas”, pensa ela.

É difícil acreditar que a campanha contra a sacolinha plástica não tenha alcançado o resultado esperado até agora por causa da resistência do consumidor. O brasileiro está sempre disposto a colaborar. Só que, para tanto, ele precisa entender o mecanismo da campanha. O que deve fazer? Como deve fazer? E, principalmente, quais são os meios que ele tem para participar?

Mais problemas do que soluções

Vira e mexe, os telejornais retomam o assunto e colocam um repórter na saída dos caixas dos supermercados. Vira e mexe, perguntas e respostas se restringem ao ato da compra: “A senhora trocaria a sacolinha plástica por uma sacola retornável?”. “Sim, sem dúvida, a gente fazia isso antigamente, não é mesmo? Então, por que não ajudar?”, são os termos que mais se ouve. Mas, e depois?

Em casa, a gente sempre embrulhou o lixo em jornal. Mas, para sair do nosso apartamento com destino à lixeira do prédio, não há jornal que resista. É preciso colocar os embrulhos em sacos plásticos. E da lixeira do prédio para a rua, para o caminhão do lixo? São enormes sacos plásticos que embalam o lixo coletivo do condomínio, à espera da coleta.

À procura de alternativas para a embalagem do lixo doméstico, outro dia descobri um blog que ensinava como fazer dobraduras na folha de jornal, de modo a se criar um saco de papel. Gostei da ideia, mas imagino que na correria do dia a dia, poucos terão tempo para esse tipo de atividade manual. E, se essa questão fica assim resolvida dentro de casa, o que fazer com o lixo empacotado da porta para fora?

Na época da minha avó, as pessoas colocavam latas de lixo nos muros das casas. Os caminhões de coleta paravam, os garis despejavam o conteúdo das latas nas caçambas e as atiravam (semi) vazias pela rua. Essa alternativa é inaceitável nos dias atuais. A população está cada vez mais urbana. As casas cedem lugar a prédios. A coleta é em grande parte noturna, por causa dos problemas de trânsito nas cidades e, à noite, uma sinfonia de latas pelas ruas provocaria mais problemas que soluções.

É preciso que todos façam a sua parte

Já avançamos muito com o reciclável. O Brasil é o país que mais coleta e recicla latas de alumínio. A indústria das garrafas pet vem desenvolvendo embalagens verdes, cem por cento recicláveis. Novas tecnologias favorecem a reciclagem total das embalagens longa vida e muitos são os novos usos para pneus e entulho.

Há iniciativas louváveis em defesa do meio ambiente da parte de ONGs, empresas e cidadãos conscientes. Esse é um movimento que só tende a crescer e exemplo disso é o Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), uma associação criada em 1992 e mantida por empresas privadas de diversos setores.

O Cempre desenvolve um trabalho intenso no sentido de conscientizar a sociedade para a adoção da prática dos três Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) e, para isso, produz publicações didáticas e técnicas, apóia pesquisas, realiza seminários e mantém informações atualizadas à disposição de todos, seja por consultas diretas ao seu site (www.cempre.org.br), seja pelo envio de boletins por e-mail para quem se cadastra nele.

Progredimos em matéria de conscientização e isso se nota nas pequenas atitudes do cotidiano. No entanto, as questões da gestão pública do lixo precisam ser urgentemente resolvidas.

Será que substituir as sacolinhas plásticas por outras biodegradáveis, ao custo unitário de R$ 0,19 para o consumidor, vai resolver o dilema da destinação do lixo doméstico? Se bem orientada, a população fará a sua parte. Por sinal, os resultados só virão se todos fizerem a sua parte.

*Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.