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Força-tarefa para o ensino técnico

Lucila Cano

06/05/2011 07h00

Na sexta-feira, 29 de abril, a presidente Dilma Rousseff foi à televisão cumprimentar o trabalhador brasileiro pela passagem do 1º. de Maio. Não se ateve apenas à data. Falou do combate à inflação, da erradicação da miséria e da educação como desafios do crescimento.

Em seu pronunciamento, fez um resumo do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico, o Pronatec, lançado pelo governo federal no dia anterior, quando comemoramos o Dia Nacional da Educação.

Esse movimento para expandir o ensino técnico é muito importante para o estudante, mas também para o trabalhador, o empresário e o próprio governo.

Um conjunto de medidas

O Pronatec reúne um conjunto de medidas. Entre unidades já existentes e aquelas a serem entregues neste e no próximo ano, o governo contabiliza cerca de 600 escolas técnicas. Segundo as previsões, essas escolas atenderão mais de 600 mil estudantes em todo o país. É um número pequeno diante da meta de capacitação de oito milhões de brasileiros em quatro anos, como declarou a presidente em seu discurso.

Por isso mesmo, o programa acena com outros esforços: apoio às redes estaduais de educação profissional, através do repasse de recursos para infraestrutura, meios pedagógicos e formação de professores; ampliação do ensino à distância, por meio da Escola Técnica Aberta do Brasil (E-Tec); acordo com o Sistema S (Sesi, Senai, Sesc e Senac), cujos cursos de capacitação técnica e profissional complementarão a formação de alunos das redes estaduais do ensino médio; financiamento para estudantes e para empresas que desejem formar seus trabalhadores em escolas particulares habilitadas pelo MEC ou no Sistema S.

A esse rol de medidas, a presidente acrescentou a intenção de oferecer 75 mil bolsas de estudo para universitários no exterior. Para tanto, convidou a iniciativa privada a participar com 25 mil bolsas, ou seja, um terço do total. Assim, o governo também sai à busca de parceria com o empresariado para impulsionar a educação no Brasil.

Exemplo é o que não falta

Os empresários sempre apostaram na educação para sustentar o crescimento do país. É bem verdade que a maioria investe no ensino fundamental. Atualmente, 98% das crianças brasileiras estão na escola. Agora, a luta dos investidores sociais é com a qualidade do ensino.

A urgência da formação de mão de obra qualificada pode atrair mais investimentos e novas ideias para esse outro estágio da educação. Há bons exemplos de iniciativas isoladas. Para ter os melhores engenheiros aeronáuticos, a Embraer fez muitas parcerias com escolas e investiu nos seus próprios treinamentos corporativos. A Fundação Bradesco, criada há mais de 50 anos, beneficia crianças, jovens e adultos nos segmentos de educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e educação profissional. Até 2010, mais de 850 mil alunos foram formados e capacitados pela Fundação.

Em Recife, o empresário Marcos Magalhães, ex-presidente da Philips, criou o Instituto de Corresponsabilidade pela Educação. Começou com um projeto de ensino médio na antiga escola estadual em que estudou. A sua proposta valoriza o jovem e o seu projeto de vida, o que implica um projeto profissional. O curso é em período integral e os estudantes têm direito a refeições, laboratórios de física, de química, de idiomas. Os professores trabalham em regime de dedicação integral e são remunerados acima da média. Mesmo assim, o custo por aluno é inferior ao da escola de meio período.

Como tudo começou em uma escola estadual, essa proposta inovadora passou a chamar-se escola experimental, de maneira a não interferir nas normas do sistema. Hoje, ela está em 270 escolas de cinco estados: Pernambuco, Ceará, Piauí, Sergipe e Maranhão. Marcos Magalhães realiza o seu bem-sucedido projeto com a adesão de outros empresários.

Ao atender ao convite da presidente, mais do que dinheiro, a iniciativa privada terá muito a oferecer em matéria de competência.

*Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.