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Poesia na escola

Lucila Cano

28/10/2011 07h00

Em Itapipoca, a pouco mais de 200 quilômetros de Fortaleza, uma professora respira poesia desde a infância. Na escola onde trabalha, ou nas informações pela internet, ela auxilia outros professores a fazerem da poesia um estímulo ao aprendizado.

Itapipoca é a terra natal do Tiririca, aliás, Francisco Everardo Oliveira Silva, deputado federal eleito por São Paulo em 2010, na segunda maior votação para a Câmara na história do País.

Mas não é a figura dele que está em pauta e sim a de Emiliana M. S. Teixeira, pedagoga e especialista em metodologia do ensino fundamental, graduanda em Letras-Inglês pela Universidade Federal do Ceará/Universidade Aberta do Brasil (UFC-UAB) e pós-graduanda em Mídias na Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Começar com as primeiras letras

“Desde criança, me encantei com a escrita e a leitura. Com 12 anos, ganhei um violão de minha mãe. Desde então, nunca mais parei de escrever sobre dores, paixões, alegrias, tristezas, ilusões e desilusões. Precisava falar do meu mundo e do mundo ao mundo”, conta a professora.

Perguntada sobre qual a melhor idade para se gostar de poesia, ela diz que “tudo deveria começar com as primeiras letras, pois as crianças têm grande sensibilidade e capacidade de aprendizagem. Desde o pré-escolar as crianças aprendem músicas infantis que tratam do seu dia a dia. A música é pura poesia e as crianças já têm contato com ela sem ter o conhecimento. O professor, salvo raras exceções, também não tem consciência desse ato, do trabalhar poesia, ensinar com poesia”.

Repensar a prática dos professores é o caminho para a conscientização, segundo ela, “pois a poesia pode ser trabalhada em qualquer disciplina, em qualquer momento e desde cedo. Assim, os alunos vão apreciando o belo: o balanço das folhas de uma árvore, o canto dos pássaros, a música natural do ambiente, os sons do rio, da chuva e do vento, o surgimento do sol e da lua, até atingirem um amadurecimento poético e intelectual”.

O que afasta professores da poesia

“Buscar o novo dá trabalho”, afirma a professora. “Não é fácil sair da rotina. Quando se fala em poesia, alguns se sentem analfabetos no assunto. Outros se interessam por acharem bonito e por terem alguma vocação para a escrita, o dom de brincar com as palavras e colocá-las no lugar certo. Mas a resistência é grande. Esse tema deveria ser trabalhado nos cursos de capacitação, nos planejamentos mensais. Acredito que a escola deveria realizar mais projetos envolvendo a poesia, como saraus e concursos de redação.”

“Cada professor se aprofunda naquilo em que já tem alguma aptidão ou conhecimento. Os que sentem os encantos de um belo texto sempre buscam mais sobre o fazer poético. Eles trabalham na sala de aula com dinâmicas e metodologias renovadoras, seleção de bons livros, bons autores, músicas. Também acho interessante o trabalho com os poetas da terra, para que se conheça a cultura local, pois há uma grande riqueza no folclore”, sugere a professora.

Para ela, “uma dica seria trabalhar a poesia com calma, a partir de livros mais simples e músicas infantis para, em outra etapa, avançar com os clássicos. Os alunos deveriam ser motivados a escrever sobre o que veem e o que sentem. É importante deixar que falem e produzam o que quiserem para depois, em avaliações, proporcionar a eles a melhoria dos seus conhecimentos”.

“A poesia deveria ser trabalhada de maneira interdisciplinar, porque quando penetra na mente dos pequenos leitores, aumenta a capacidade de raciocínio deles, e esse é um primeiro passo para se criar o hábito da leitura e da escrita”, complementa.

A professora Emiliana M. S. Teixeira tem trabalhos publicados em antologias, jornais e concursos no Brasil e na América Latina. Participou de obra em homenagem a Noel Rosa, na Bienal do Livro, em setembro passado no Rio de Janeiro.

Atualmente, organiza o livro “Estalos Poéticos” - uma Coletânea Literária de Itapipoca, apenas com escritores da sua cidade. Também prepara um livro de poemas e crônicas para o público infanto-juvenil.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.