Feliz 2031
Não conheci meu avô paterno. Sei que ele veio da Espanha, chamava-se Antonio e casou-se com uma conterrânea no Brasil, em 1920. Meu pai, o primogênito da família, nasceu em 1925. Esse avô mal conheceu os avanços do século 20 e deixou meu pai órfão aos nove anos de idade.
O avô materno, de nome Primo e filho de italianos, viveu mais. Pôde conviver com os netos até quando nós já éramos adultos. Ele também testemunhou um feito histórico, embora insistisse que se tratava de uma farsa o que seus olhos viram na tela da televisão: a chegada do homem à Lua.
Encerramos 2011 com a descoberta de um novo planeta, o Kepler-22b, cerca de 600 anos-luz distante da Terra. Em termos práticos, a notícia não é das mais animadoras, pois, dizem os cientistas, não dispomos hoje de tecnologia para vencer a distância entre os dois planetas. Mas, como para os sonhos não há limites, o Kepler-22b é o planeta da vez a despertar a esperança de que não estamos sós.
A solidão planetária aflige os habitantes da Terra, a despeito de não sermos exemplo de convívio harmonioso nem entre nós mesmos. Por isso, mais do que solidão, acredito que o que nos move para o Universo é o espírito de conquista. Queremos, porque queremos, chegar lá, mesmo não sabendo exatamente onde lá fica e para que lá serve. E, quando lá chegarmos, por que não irmos mais adiante?
Pés no chão
Neste espaço que habitamos, a ocupação e a devastação desenfreadas são alegados motivos para a busca de outros mundos que possam nos abrigar, quando os recursos por aqui se esgotarem.
Enquanto isso, vamos nos virando como podemos e nos redescobrindo a todo momento. Saber que uma parte da população brasileira vivia em condições precárias, sempre soubemos. Mas, ter números mais próximos da realidade e identificar onde estão localizadas as comunidades mais necessitadas é uma grande conquista.
Assim, graças ao último Censo, constatamos que 11 milhões de brasileiros vivem em favelas e moradias em condições irregulares, como na cidade de Belém, campeã da precariedade habitacional. Dos habitantes da capital paraense, 54% vivem em palafitas na periferia, à mercê de inundações, lixo, epidemias, falta de água potável e saneamento e escassez de energia elétrica.
A precariedade habitacional está presente em todo o país, embora a população da Região Norte seja a que mais sofre com as péssimas condições de suas moradias. O Censo diz que 12% dos habitantes da região moram mal. A Região Sudeste aparece em segundo lugar (7%), com mais de dois milhões de pessoas (13% da população) vivendo em favelas no Rio de Janeiro. Depois, vêm a Região Nordeste (6%), a Região Sul (2%) e a Centro-Oeste (1%).
Se essas informações soam alarmantes, para os gestores da Nação elas são preciosas. Passado o recesso de final de ano, todos poderão planejar e executar medidas para que morar com dignidade seja mais uma das nossas conquistas sociais.
Entre os seis mais
O Brasil fechou este ano como sexta economia mundial, segundo um instituto inglês de pesquisas econômicas, tomando o lugar antes ocupado pelo Reino Unido. Realista, nosso ministro da Fazenda comemora o fato, mas reconhece que só atingiremos o padrão de vida europeu entre 10 e 20 anos.
Precisamos vencer as diferenças sociais que distanciam a vida do brasileiro do nível de qualidade que se espera para um dos “seis mais”: renda, emprego, habitação, saneamento básico, saúde, educação.
Como esta época é propícia para prognósticos e votos de realizações, vamos renovar a esperança para que em 2031 todo brasileiro tenha emprego que o motive a produzir, partilhar, crescer. Que ele tenha renda para o sustento da sua família. Que também tenha uma casa digna para morar, que o abrigue das intempéries e que lhe propicie o acesso básico a água, esgoto e energia. Que não lhe falte saúde e ele tenha assistência sempre que precisar. E que ele e todos os seus tenham a educação desejada para transformar a vida e fazer do seu planeta um mundo bem melhor.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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