Topo

Por um cenário mais sustentável

Lucila Cano

08/06/2012 06h00

Muitos estão às voltas com a cheia do Rio Negro, que modifica a paisagem da Região Norte, provoca estragos incalculáveis e desafia até a população urbana, ao inundar as ruas asfaltadas da capital Manaus, no Amazonas.

No Nordeste, a seca não poupa nada, nem ninguém, e o racionamento de água começa a afetar as cidades, além de todos os males já provocados às populações do interior da Região.

No Sul, a chuva forte deixa desabrigados e sinaliza prejuízos de monta em muitos municípios do Paraná.

O clima, um dos temas mais controversos para os representantes dos países que participarão da Rio+20 nos próximos dias, impede que muitos brasileiros atentem para a importância do evento da ONU.

Que resultados nos trará essa conferência que se dispõe a discutir nossas necessidades de desenvolvimento sustentável e a apontar caminhos possíveis para uma vida mais harmoniosa com o planeta?

Provavelmente não teremos respostas para todos os problemas que afligem o Brasil e mundo, e não só com relação ao clima. No entanto, ao menos teremos avançado mais um tanto na busca de soluções.

Mobilização empresarial

Quem pode se mobiliza para levar propostas à Rio+20, o que evidencia um processo evolutivo em relação às reuniões ocorridas em décadas anteriores: a Eco 92 (também no Rio de Janeiro) e a Rio+10 (realizada em 2002 na África do Sul).

Nada mais natural, portanto, que os empresários se manifestem, como bem apurou a pesquisa “Desenvolvimento sustentável no Brasil – Das visões do empresariado às práticas das organizações”, conduzida pela Deloitte, uma das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo.

O levantamento foi realizado entre 9 de abril e 15 de maio com uma mostra de gestores de 108 organizações de todos os portes e setores, as quais, juntas, somam faturamento de R$ 700 bilhões, correspondente a 17% do PIB nacional em 2011.

Dos entrevistados, 45% têm uma visão positiva da Rio+20 e acreditam na sua contribuição. Outros 45% entendem que a conferência não trará mudanças significativas. Os 10% restantes também se dividem entre a aposta em grandes transformações e a possibilidade de um retrocesso nas negociações globais.

Metas claras a serem cumpridas são demandadas por 30% dos empresários, ao mesmo tempo em que outros 30% reclamam por sanções legais a países e empresas que não cumprirem as metas.

Dos aspectos a serem discutidos na Rio+20, o empresariado acredita que os que trarão maior impacto à gestão de suas organizações, após a conferência, serão a adoção de novas tecnologias (20%), a implantação de certificações e auditorias (19%), a racionalização do uso de recursos naturais, com o emprego de matérias-primas e insumos (16%) e a necessidade de aderência a regulamentações na área ambiental (14%).

Segundo os entrevistados, o envolvimento com os temas da sustentabilidade deve ser partilhado por cidadãos e consumidores (22% das respostas); pelo governo (13%); e pelas empresas (9%). Foram indicadas também outras soluções, como a criação de órgãos supranacionais para tratar da sustentabilidade (10%) e o estabelecimento de protocolos entre as nações (8%).

Atitudes

O compromisso empresarial com a sustentabilidade dá mostras de consistência. Das empresas pesquisadas pela Deloitte, 77% afirmaram incluir o desenvolvimento sustentável em seus planejamentos estratégicos.

Delas, 47% adotam políticas e diretrizes de sustentabilidade; 43% elaboram relatórios de sustentabilidade; 42% cuidam do gerenciamento de impactos ambientais e 27% já vinculam a remuneração dos funcionários a metas associadas à sustentabilidade.

De acordo com a pesquisa, os programas mais adotados pelas empresas são: coleta seletiva de lixo (73%); ações de responsabilidade social (65% realizam na comunidade e 60% entre os funcionários); racionalização do uso de recursos naturais (54%); e educação ambiental (51%).

Para encerrar, estudo realizado pela Deloitte em 2009 mostrou que 78% das empresas no Brasil adotavam práticas sustentáveis. Na pesquisa atual, 85% declaram exercer essas práticas.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.