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Progresso inegável, mas lento

Lucila Cano

05/09/2012 15h14

 

O Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem) colocou um marcador na página inicial de seu site que registra dias, horas, minutos e segundos que ainda restam para que as prefeituras fechem lixões e implantem a coleta seletiva no Brasil.

O marcador é um lembrete para que o prazo estipulado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos seja cumprido em 2014.

Dos 5.565 municípios brasileiros, apenas 766 fazem coleta seletiva, segundo a pesquisa “Ciclosoft 2012”, realizada pelo Cempre e apresentada em seminário no Rio de Janeiro em 31 de agosto.

O número parece desalentador face aos desafios do país em saneamento. No entanto, se comparado a resultados anteriores, representa um avanço. Promovida a cada dois anos, a pesquisa mostra a participação crescente de municípios com coleta seletiva de lixo: 237 em 2004; 327 em 2006; 405 em 2008; 443 em 2010. 

Falta infraestrutura

No final de junho, a pesquisa "O que o brasileiro pensa do meio ambiente e do consumo sustentável", a cargo do Ministério do Meio Ambiente, divulgou resultados igualmente positivos em relação à reciclagem.

A iniciativa do ministério teve início em 1992, por ocasião da Rio 92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano. Na época, 4% dos entrevistados se preocupavam com o destino, a separação e a coleta do lixo. A pesquisa de 2012 identificou 28% de pessoas atentas ao problema.

O mesmo levantamento revela que 48% de entrevistados, principalmente das regiões Sul e Sudeste, cuidam da separação dos resíduos para reciclagem. Infelizmente, o aumento da conscientização ambiental colide com a falta de infraestrutura da administração pública. 

O exemplo mais expressivo é o da maior cidade do país. São Paulo desperdiça quase 2.000 toneladas diárias de materiais que poderiam ser reciclados. Cerca de 90% do lixo reciclável seguem para os aterros sanitários, em vez de se transformar em renda para o município e cooperativas. A prefeitura promete ampliar as centrais de reciclagem. Atualmente, trabalha com apenas 21 cooperativas conveniadas que operam acima de sua capacidade. Elas descartam metade dos resíduos recicláveis que recebem.

Saneamento

O Instituto Trata Brasil (www.tratabrasil.org.br) divulgou em meados de agosto o “Ranking do Saneamento”. A pesquisa é realizada desde 2007 em parceria com a consultoria GO Associados, especializada em saneamento básico.

O levantamento analisa a situação dos serviços de água e esgoto nos municípios que concentram a maior parte da população. Tem por base indicadores de 2010 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico (SNIS) do Ministério das Cidades. 

Em linhas gerais, o estudo mostra que grande parte das maiores cidades vem cuidando melhor dos serviços de saneamento básico. Mas, desafios como o da coleta, tratamento e despejo de esgotos persistem.

Ao considerar a população do país de 191 milhões de pessoas em 2010, segundo o IBGE, cerca de 77 milhões viviam nas cidades avaliadas pela pesquisa. Delas, quase 7 milhões ainda não tinham acesso à água tratada e 31 milhões não dispunham de coleta de esgotos. 

Além disso, as cem maiores cidades brasileiras incluídas no ranking são responsáveis pelo despejo diário de cerca de 8 bilhões de litros de esgoto sem tratamento em suas águas (mar, rios, córregos etc.).

Em outro estudo - a pesquisa Trata Brasil - Ibope “A percepção do brasileiro quanto ao saneamento básico e a responsabilidade do poder público”-, também acessível no site do instituto, é oportuno observar que, quando perguntados sobre as necessidades do seu município, os entrevistados citaram temas macro: saúde, educação, segurança etc.

No entanto, entre as respostas a perguntas específicas sobre saneamento, a grande maioria atribuiu a responsabilidade por melhorias ao prefeito. Recomendo a leitura da pesquisa para candidatos e eleitores.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.