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Mestrado sustentável na prática

Lucila Cano

14/09/2012 06h00

Em meados do ano passado, 237 pessoas disputaram as 20 vagas da primeira turma do curso de Mestrado em Práticas em Desenvolvimento Sustentável da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).

Após uma desistência, o grupo hoje reúne um moçambicano e 18 brasileiros. Deles, 14 são do Rio. Os demais, um de cada Estado, são do Amazonas, Espírito Santo, Minas Gerais e Paraná.

As mulheres são maioria (12) e a média geral de idade é 33 anos. Quase todos têm vínculo empregatício (17) e atuam em empresas, no terceiro setor, no governo ou em consultoria, e têm cerca de seis anos de experiência profissional.

A formação é diversificada, sendo que quatro fizeram engenharia agronômica, três, ciências biológicas e três, comunicação social/jornalismo.

O curso é gratuito e tem duração de dois anos. Integra a Rede Global de Mestrados em Práticas em Desenvolvimento Sustentável, da qual a UFRRJ participa. A rede congrega 21 universidades em todo o mundo, tem apoio financeiro da Fundação MacArthur e é coordenada pela Columbia University, nos Estados Unidos.

Em campo

O treinamento de campo ocorre ao longo de 2012 com estudos da Mata Atlântica, da Amazônia e da África. Nos locais escolhidos já existem projetos coordenados pelas instituições parceiras da UFRRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro; Universidade Federal de Minas Gerais; Universidade Federal do Amapá; Embrapa; Universidade Lúrio, de Moçambique.

Em julho, os estudantes trabalharam no Vale do Bonfim, comunidade do município de Petrópolis (Rio de Janeiro). Apresentaram um plano de conservação do uso da água, conservação do solo e irrigação. Orientaram os agricultores a respeito de práticas agrícolas sustentáveis e captação de recursos para o ecoturismo na região. Ainda produziram um vídeo sobre a história do Vale do Bonfim. Os projetos foram entregues à direção do Conselho do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, onde se localiza a comunidade.

Em agosto, o destino do grupo foi a região da Ilha das Cinzas e Maracá, às margens do Rio Amazonas, no Estado do Amapá. A Universidade Federal do Amapá e a Embrapa apoiaram os trabalhos voltados para as comunidades extrativistas. Os projetos se concentraram no manejo e produção de camarão, uso de plantas medicinais, cadeia produtiva da andiroba, água, saneamento básico e educação.

A terceira etapa do programa prático ocorrerá entre 5 e 30 de novembro em Lichiga (savana africana), em Moçambique.

Para o professor Rodrigo Medeiros, coordenador do curso, "essas atividades permitem aos mestrandos um contato direto com as demandas de comunidades em situação de risco e a possibilidade de aplicação in loco de conhecimentos e técnicas que podem contribuir com o desenvolvimento dessas comunidades".

Uma nova turma

Com a seleção de uma segunda turma em 2012, a UFRRJ está com 38 alunos matriculados e aguarda a chegada de dois moçambicanos. No grupo, com 19 integrantes por enquanto, dois são da Bahia e um de Mato Grosso.

Até então, as Regiões Nordeste e Centro-Oeste não estavam representadas. Entre os demais, oito são do Rio e quatro, do Rio Grande do Sul. Amazonas, Espírito Santo, Minas e Paraná têm um representante por Estado.

Em questão de gênero, a nova turma está equilibrada: 11 homens e 10 mulheres com idade média de 28 anos. Deles, 14 têm vínculo empregatício.

Quanto à formação, a grande maioria cursou ciências biológicas (10). Três estudaram oceanografia, mas também há um bacharel em direito, um em psicologia e um engenheiro florestal.

Assim como a turma anterior, o grupo terá um ano de conteúdo teórico. O segundo ano será dedicado aos treinamentos de campo e ao trabalho de dissertação do curso.

A criação do mestrado em escala internacional decorre da falta de profissionais em todo o mundo que promovam o desenvolvimento sustentável. O objetivo é preparar lideranças capazes de lidar com problemas desde a pobreza e controle de doenças até as alterações climáticas e a vulnerabilidade dos ecossistemas.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.