Viver bem na cidade
Os jovens hoje na faixa dos 20 anos ingressarão na terceira idade a partir de 2050, segundo levantamentos internacionais que apontam para o envelhecimento populacional.
Notícia da ONU em outubro do ano passado já confirmava 700 milhões de pessoas com mais de 60 anos em todo o mundo. Até 2050, a organização previu que essa população seja superior a 2 bilhões e ultrapasse o número de crianças com até 14 anos de idade.
O Brasil confirma a tendência do envelhecimento mundial. Em 2010, as pessoas com 60 anos ou mais correspondiam a 10,8% da população total, ou 20,5 milhões. Para 2025, segundo estimativa do IBGE, os idosos serão cerca de 13% da população. Assim, o Brasil terá a sexta população de idosos em termos absolutos.
Não há nada de errado com um país que envelhece. Os países, assim como as pessoas, passam por fases e em todas elas enfrentam desafios. O importante é saber superá-los.
Um guia para as cidades
A questão da velhice é recorrente no noticiário nacional porque o Brasil não se preparou para ela. Agora, precisa correr contra o tempo. Há muito por fazer e talvez o mais difícil seja a mudança de comportamento de uma sociedade que cultua a juventude em todos os sentidos.
No final de março de 2011, o IEA (Instituto de Estudos Avançados) da USP, em parceria com o Grupo Mais-Hospital Premier e a Oboré Projetos Especiais de Comunicação e Artes, realizou o ciclo “Idosos no Brasil: Estado da Arte e Desafios”. Os debates ocorridos naquela oportunidade, passado mais de um ano, permanecem atuais.
Atento para a mesa-redonda “Aspectos urbanos e habitacionais em uma sociedade que envelhece”, que teve a participação de Alexandre Kalache, da Academia de Medicina de Nova York e da professora Guita Grin Debert, do Departamento de Antropologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Em trecho do seu pronunciamento, Kalache lembrou que a concentração urbana também cresceu vertiginosamente no Brasil e afirmou: “Vamos precisar mudar a realidade do idoso no contexto urbano e, para isso, é fundamental ouvi-lo e fazê-lo contar como é a experiência de ser idoso na cidade”.
Essa é justamente a proposta do Guia Global das Cidades Amigas das Pessoas Idosas, que ele desenvolveu com Louise Plouffe em 2007 para a OMS (Organização Mundial da Saúde) e que contou com a colaboração de representantes de vários países-membros.
Ouvir para mudar
Em São Paulo (SP), um grupo de arquitetos de prestígio internacional participou do Arq.Futuro SP nos dias 24 e 25 deste mês para discutir as possibilidades da cidade para o futuro. O evento terá uma edição em Minas Gerais no início de novembro. Para 2013 estão previstas edições no Rio de Janeiro e na Bahia.
Cito a reunião dos arquitetos porque, de todas as entrevistas que acompanhei, a maioria dos profissionais declarou que é muito importante ouvir a opinião dos moradores da cidade.
O crescimento da população idosa e a concentração urbana seguem juntos e acelerados. Cerca de 87% dos brasileiros vivem em cidades. Portanto, ouvi-los parece ser fundamental para melhorar a qualidade da vida para moradores de todas as idades.
O Guia Global das Cidades Amigas das Pessoas Idosas resultou, entre outras fontes, de pesquisas junto a idosos e cuidadores durante seis meses em 35 cidades do mundo. A contribuição do Brasil para o projeto saiu do bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, conhecido por concentrar a maior população de idosos no país.
Os principais temas do estudo são: espaços externos e edifícios, transportes, habitação, participação social, respeito e inclusão social, participação cívica e emprego, comunicação e informação, apoio comunitário e serviços de saúde.
Em 2009, a Fundação Calouste Gulbekian patrocinou uma edição do guia em português de Portugal, a qual pode ser acessada no link: http://www.gulbenkian.pt/section154artId1949langId1.html
Vale a pena ler e ampliar as oportunidades para que os idosos do século 21 mostrem a que vieram.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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